Sais de nicotina: Uma nova ameaça?

Um ditado popular diz que o brasileiro não tem um dia de paz e eu concordo plenamente com isso. Mas, ainda acrescentaria, um médico brasileiro não tem um dia de paz.

Recentemente nossos jornais e demais meios de comunicação foram tomados por notícias referentes a comercialização de sais de nicotina em território nacional. E agora mais essa!

Pois é, em diversos países essa modalidade já tomou conta do mercado do tabaco, tendo seu marketing embasado na possibilidade de se utilizar de algo que não provoca combustão e ao mesmo tempo traz sensação de prazer.

Recentemente até o FDA (Food and Drug Administration), órgão regulatório dos Estados Unidos semelhante a nossa ANVISA, liberou o uso em território americano.

Mas afinal, o que são esses sais?

Esses produtos distinguem-se da nicotina básica por apresentar uma estrutura química diferenciada que as torna facilmente absorvidas pela mucosa, e assim a nicotina atinge facilmente a corrente sanguínea e o Sistema Nervoso Central, gerando consequentemente mais adição.

Assim como o cigarro eletrônico, essa modalidade é vendida ilegalmente em nosso país e também é potencialmente danosa ao nosso organismo. Como os sais são absorvidos pela mucosa há um risco potencial de tumores de cavidade oral, como lábio, gengiva, mucosa e mandíbula. Há também a evidência que a nicotina aumenta a pressão arterial e frequência cardíaca, sendo assim, a longo prazo aumenta o risco cardiovascular de seus usuários.

Não obstante, os sais geram muito mais dependência o que torna muito mais difícil de suspender seu uso, entrando em um ciclo vicioso destrutivo.

Mas como é possível órgãos regulatórios competentes liberarem o uso de tais substâncias?

Bem, existem sim estudos sobre redução de danos relacionados ao uso de sais de nicotina e o uso desses sais em concentrações menores, mas quando os colocamos sobre uma lupa, vemos que foram patrocinados pela própria indústria do tabaco, nossa antiga conhecida Philip Morris.

Bom é aí que mora o perigo, como confiar e dar crédito a estudos patrocinados por quem quer vender esses produtos?

Como sempre a indústria do tabaco se manifesta como uma entidade que visa o bem estar da população e produz instrumentos para terapia de “redução de riscos”. A máxima que diz que não existe cigarro do bem, ainda se aplica e redução de danos que provoca câncer não é redução de danos.

Há anos patinamos em leis que proíbem o uso de cigarros eletrônicos e derivados de nicotina, porém nos faltam pernas na fiscalização e na educação de nossos jovens e caso não prestemos máxima atenção a este tema perderemos uma geração as novas modalidades de uso de nicotina.

Realmente o médico brasileiro não tem um dia de paz.

Dra. Laura Deltreggia – Pneumologista
CRM 139.347 | RQE 56673

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