Erich Fromm postulava que o ser humano ao longo da evolução teria se afastado, ou mesmo “arrancado” de sua união com a natureza. Desenvolvendo a capacidade de pensar, teria se deparado com dificuldades chamadas de existenciais. Defendeu ainda a hipótese de que a saúde mental seria a capacidade das pessoas de encontrarem respostas adequadas às necessidades existenciais. Tais respostas seriam formas mais capazes de se relacionarem com o mundo. As necessidades humanas fundamentais elencadas por Fromm seriam a necessidade de ligação, transcendência, enraizamento, sentimento de identidade e estrutura de orientação.
A necessidade de ligação, talvez a mais importante para o ser humano, seria o impulso natural para união com as pessoas. Esta poderia se dar de três formas fundamentais: por submissão, pelo poder ou pelo amor. Esta relação poderia ocorrer pela submissão do indivíduo a uma outra pessoa, um grupo ou uma instituição e levaria a pessoa a um estado de completude e pertencimento, identificando-se com a outra pessoa ou grupo.
As pessoas submissas necessariamente procuram por pessoas, grupos ou organizações de caráter dominador, estabelecendo relações chamadas de “simbióticas”, nas quais ambos se acomodam e têm uma relativa sensação de satisfação. Tais relações, entretanto, impedem o desenvolvimento psicológico, crescimento e que se encontre uma relação verdadeiramente saudável. Esses relacionamentos nunca se tornam suficientemente satisfatórios e é possível se identificar sentimentos inconscientes de hostilidade e rancor. Os relacionamentos levam ao reforço do comportamento de submissão e poder, aumentando a dependência mútua, a insegurança e o sofrimento.
Fromm entendia que o amor seria o padrão saudável de ligação entre seres humanos e na ligação do humano com o mundo, definindo aquele como “união com alguém ou algo externo a si com a condição de manter a separação e a integridade do próprio self”. A união pelo amor incluiria a necessidade de ligação sem a perda da independência e da individualidade. No livro “A Arte de Amar”, Fromm detalhou ainda que o amor envolveria a necessidade de cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento próprio e do outro.
Outra necessidade humana seria a transcendência, palavra de sentidos múltiplos, mas que foi tomada por Fromm como a busca de mudar a natureza e a própria existência, seja por métodos produtivos ou não produtivos. Seria possível ao humano atuar criando vida ou promovendo sua destruição. A atitude criadora poderia se dar por meio da arte, religião, desenvolvimento de ideias, leis, bens materiais e pelo amor. A atitude destrutiva se daria por meio da agressividade, sendo a espécie humana a única que pode matar por motivos que não sejam a sobrevivência.
O enraizamento seria, como o próprio nome apresenta, a necessidade de estabelecer raízes e sentir-se “em casa”, num mundo de incertezas e medo, decorrentes da perda do contato com a natureza. Igualmente, pode ser buscado por meios produtivos ou não produtivos. Uma forma improdutiva de solução para a necessidade de enraizamento seria a estratégia da fixação, na qual o indivíduo se deteria na segurança proporcionada pela mãe ou por alguém na posição materna. A necessidade “neurótica” por proteção e cuidado poderia levar à dependência extrema, medo, insegurança e impossibilidade de se viver uma vida livre. Fromm, divergindo de Freud, acreditava que esta extrema dependência e apego à figura materna poderia indicar que os sentimentos incestuosos da criança não precisariam ser de natureza estritamente sexual e poderiam ser dirigidos à mãe. Poderiam tais sentimentos estarem relacionados do ponto de vista filogenético não a uma ancestralidade de natureza patriarcal, mas matriarcal.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra – CRM 55.945 | RQE 33.048