Respeito não cai na prova

Recentemente a comunidade médica foi atingida por uma desagradável surpresa: alunos do curso de medicina de uma respeitada universidade do país publicaram uma foto realizando gestos obscenos cujos atingidos eram os docentes patronos da instituição.

Vale lembrar que em poucos meses essa mesma instituição fornecerá aos alunos em questão, o diploma de médico, habilitando os futuros “colegas” a diagnosticar e tratar enfermidades, salvar vidas, amenizar ou até mesmo extirpar alguns dos piores sofrimentos humanos, e dessa função tirar o próprio sustento.

As fotos divulgadas nas redes sociais envergonharam não só aqueles que consumaram o ato, mas toda a comunidade médica. Afinal de contas, o que as outras profissões irão pensar de nós? O que a sociedade irá pensar de nós?

Além da vergonha, o episódio também nos serve como um importante lembrete: A triste constatação de que o conhecimento técnico e a moralidade nem sempre estão de mãos dadas. Não tenho conhecimento das notas e do desempenho dos alunos envolvidos, mas não há habilidade que ofusque a falta de respeito.

Edificar conhecimento e levantar uma instituição não é um trabalho fácil, é um árduo caminho repleto de privações e esforços, basta um rápido exercício de memória para nos recordarmos da dedicação de nossos professores, que durante a sua caminhada na docência renunciaram a tempo com os filhos, hobbies, viagens e tantas outras coisas para enfim, nos passar o conhecimento adquirido a duras penas. Soma-se a isso, o fato de que anos de esforço e aulas brilhantes atualmente precisam disputar a atenção dos alunos com smartphones e tablets.

Para a maioria dos colegas médicos (e eu me incluo nesse grupo), os grandes feitos da docência citados acima são dignos de admiração e orgulho, e mais do que isso: são fontes de inspiração. Por outro lado, sabemos que os alunos não têm a obrigação de admirá-los. Mas afinal de contas, o que os patronos fizeram de tão desprezível que mereça tamanha ofensa? A resposta é: não interessa, docentes também cometem erros, mas nenhum equívoco justifica a falta de respeito. Se há alguma queixa, que procurem os meios formais para fazê-la.

Ser reconhecido por um esforço é gratificante, e muitos docentes recebem merecidas homenagens, por outro lado, não ser reconhecido faz parte do jogo e não é exclusividade da medicina, pode acontecer em qualquer campo de trabalho. Mas ser hostilizado não estava (até agora), na lista de possíveis consequências do empenho e zelo pelo conhecimento.

Sendo assim, a partir de agora a geração atual e futura de docentes precisará lidar com um novo desafio, onde existe a possibilidade não só de não serem reconhecidos, mas também serem hostilizados por seus feitos acadêmicos.

Os alunos que participaram deste ato indigno, afrontaram toda uma classe, e pior, jogaram um balde de água fria naqueles que compõem o mundo acadêmico.

Estamos seguros de que a faculdade irá lidar com o ocorrido da melhor forma possível. O objetivo deste artigo portanto não é punir os envolvidos, mas dar voz aos colegas que diante de tanto desrespeito querem gritar a plenos pulmões: Eu não sou assim, eu não faço parte disso, não concordo com essa atitude, sempre respeitarei os docentes, e quando possível, irei homenageá-los honrando sua memória e dando os devidos créditos aos seus feitos. Por fim, esses alunos têm apenas uma vantagem a seu favor: respeito não cai na prova, se caísse estariam automaticamente reprovados.

Dr. Marcos Paulo Sales dos Santos | Médico Ortopedista e Traumatologista
CRM 175990 RQE 95420

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