Haveria um Antagonismo Entre Behaviorismo e Psicanálise?

A visão “científica” do comportamento humano, embora fosse um contraponto da visão psicanalítica não deve ser entendida como um confronto com as ideias de Freud. Ao contrário, sabe-se que Freud se interessava pelas ideias de Skinner.
E não se poderia pensar algo diferente disso. Freud era um médico e tinha uma formação científica sólida, exceto pelo fato de que até então não havia relatos da aplicação do método científico tradicional no estudo do comportamento.

Freud se utilizou e valorizou o discurso do paciente no entendimento de seu comportamento e seus sintomas. Tal enfoque não invalida ou exclui outras formas de estudo e conhecimento do ser humano. Skinner, por sua vez, tomava como princípios que a ciência seria cumulativa, que valorizava
a experiência empírica e buscava por relações legítimas, furto de uma observação isenta e desapaixonada do comportamento.

Tal abordagem do estudo do comportamento se caracterizava pela utilização do método de estudo característico da física, química e biologia que é cumulativo, no sentido de que o conhecimento atual é muito superior ao conhecimento científico de séculos atrás, tanto pela utilização de novas tecnologias de estudo como pelo acréscimo no conhecimento.

Diferentemente, as ciências humanas se caracterizam pela genialidade do filósofo ou estudioso do comportamento e da vida em sociedade. Tal “genialidade” ou conhecimento não tem uma forma linear como o conhecimento das ciências físicas e biológicas, e não se pode comparar ou “acrescentar” ao conhecimento acumulado.

Skinner identificou tipos de condicionamentos distintos que seria o condicionamento clássico e o operante. No condicionamento clássico haveria uma resposta imediata, incondicionada que se tornaria condicionada. No condicionamento operante haveria um fenômeno denominado de aprendizado. Neste haveria um reforço imediato que seria reforçado por comportamentos posteriores.
Tais reforços poderiam ser positivos ou negativos.

Skinner não entendia, como Freud, a existência de uma estrutura que pudesse ser denominada de “inconsciente”, mas aceitava a ideia de um comportamento inconsciente. De fato, como se observa na clínica, atitudes e comportamentos que são exibidos pelo paciente não são percebidos conscientemente e torna-se evidente que há comportamentos inconscientes.

Diferentemente de Freud que acreditava que comportamentos, atitudes ou sintomas neuróticos decorreriam da repressão de impulsos ou desejos, no behaviorismo comportamentos são entendidos como desadaptados na medida em que são fruto de controle social excessivo ou interferências do meio social de forma inadequada ou arbitrária.

O comportamento poderia se tornar inadequado em função de tentativas de enfrentamento de controle social ou ambiental, os quais se tornariam fonte de angústia e sofrimento. Tais comportamentos ou “respostas” seriam, entretanto, aprendidas, ou seja, modeladas por reforços positivos ou negativos, inclusive punitivos.

Skinner, ao contrário de Freud, não tinha um objetivo propriamente “terapêutico” no seu horizonte. Freud estava determinado a ajudar pacientes com seus sintomas, ou seja, buscava resultados com sua nova terapêutica.
Deseja convencer seus pares que sua técnica seria eficaz no tratamento de condições clínicas e tinha o objetivo específico de ter pacientes e ter resultado econômico em seus atendimentos.

Skinner acreditava que a psicoterapia poderia ser um obstáculo na compreensão da psicologia e no conhecimento científico do comportamento humano.
Entendia, ao contrário de Freud, que o terapeuta seria um agente controlador no processo terapêutico, lembrando que Freud acreditava na “neutralidade” do analista.

A terapia comportamental e seus defensores evitaram a questão da influência do terapeuta e assumiram um papel ativo no tratamento de pacientes,
apontando para comportamentos com consequências positivas e “saudáveis” e advertindo sobre comportamentos negativos e não saudáveis, atitude esta
que resulta em um mecanismo de reforço, da mesma forma que atitudes de figuras do passado resultaram em reforços de comportamentos ao longo da vida.

A abordagem fundamentada em relatos, palavras, impressões e expressão de sentimentos relacionados pode representar um papel diferencial importante do modelo ou método da Psicanálise, enquanto o enfoque no comportamento observável foi o elemento primordial na técnica de psicoterapia comportamental.

Ainda que representem técnicas e métodos distintos, o comportamento e atitude presente do paciente sempre foram o objetivo de todas as modalidades de psicoterapia.
Nesse sentido, a busca por uma explicação e uma fundamentação científica do comportamento humano não opõem a Psicanálise ao Behaviorismo, mas ampliam a compreensão do humano em sua complexidade.

Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55.945 – RQE 33.048

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