A Tríade da Mulher Atleta (TMA) é denominada uma síndrome caracterizada pela baixa disponibilidade energética, podendo estar ou não associada a transtornos alimentares, alterações menstruais e diminuição da densidade mineral óssea. Não é necessário a presença de todos os componentes para o estabelecimento do diagnóstico, e a presença de um é um sinal de alerta para investigação de outros.
Baixos índices de estrogênio (hipoestrogenismo) e balanço energético negativo são os principais fatores envolvidos nas causas e consequências da tríade da atleta. Tal síndrome não ocorre somente em mulheres atletas, mas pode acometer adolescentes e mulheres fisicamente ativas, estas possuem maior risco, por nessas situações praticarem esportes nos quais um baixo peso corporal é importante para o desempenho ou por razões estéticas. Dentre os esportes que mais estão relacionados estatisticamente a TMA estão os de endurance (ciclismo e corrida de longa distância), aqueles que exigem roupas mais aderentes ao corpo na prática (vôlei de quadra/praia, natação) e os que exigem aparência corporal mais atlética para melhor desempenho (ginástica artística/rítmica e saltos ornamentais).
A baixa disponibilidade energética (DE) é resultado de um valor de gasto energético maior do que o valor energético ingerido nas refeições diárias, resultando em energia insuficiente para suprir a demanda metabólica diária. O desbalanço energético pode ser tanto por ingesta inapropriada de nutrientes como de exercícios físicos em excesso. Cabe ao médico, portanto, a realização de uma anamnese detalhada sobre os hábitos alimentares e a relação da paciente com a comida.
Os distúrbios menstruais variam desde oligomenorreia, irregularidade menstrual até amenorreia. A amenorreia da TMA é um diagnóstico de exclusão. Para uma mulher ter um balanço energético que proporcione uma boa regulação hormonal é preciso que a ingestão calórica esteja na média de 45 Kcal/Kg. Logo, mulheres atletas com valores abaixo de 30 Kcal/Kg terão o eixo hormonal reprodutivo prejudicado, o que afetará diretamente no metabolismo ósseo. Para que ocorra alterações no ciclo menstrual é necessário que ocorra alteração da secreção pulsátil de GnRH. Os níveis aumentados de endorfina no exercício físico e a permanência desta em níveis aumentados associados com o treinamento diário podem inibir a produção GnRH pelo hipotálamo.
Tanto a amenorreia quanto a baixa disponibilidade energética dependem de um tratamento multiprofissional e multifatorial, o que envolve a participação de todos aqueles profissionais que acompanham a atleta; reajuste de cargas de treinos semanais, ajustes nutricionais e até terapia de reposição hormonal em alguns casos.
O hipoestrogenismo pode desencadear diminuição da densidade óssea na atleta, o que ocorre pela baixa disponibilidade energética e por estímulo hormonal desencadeado por exercícios intensos, promovendo uma maior reabsorção óssea (aumento da atividade dos osteoclastos). Não só os níveis de estrogênio são capazes de inibir a ação osteoclástica, mas um balanço energético positivo é capaz de manter os níveis de IGF-1 adequados na manutenção da saúde óssea da mulher atleta. Como na TMA há baixa disponibilidade energética, a perda de massa óssea pode ser ainda maior. Essa perda de massa óssea pode levar a fraturas por estresse.
Todos os componentes da tríade da mulher atleta estão interrelacionados. Assim, o reestabelecimento do ciclo menstrual, bem como o reajuste calórico nutricional ajudaria a reestabelecer a massa óssea. Sempre associar a prática médica com o trabalho de fisioterapeutas, educadores físicos e nutricionistas, equilibrando quantidade de impacto, resistência, força e nutrição, para que não ocorra perdas de massa óssea desnecessárias. Em algumas situações pode-se cogitar a suplementação de vitamina D e cálcio.
Dra. Monize Bernardinetti – Ortopedia e Traumatologia | CRMSP 206.140 | RQE 110272