ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

A relação terapêutica é um elemento de extrema importância em vários contextos clínicos. Pode se dar na relação médico-paciente em qualquer especialidade médica, na relação enfermeiro-paciente ou em qualquer atividade que envolvam profissionais de saúde. Ainda que seja muito valorizada no contexto de uma psicoterapia, o conhecimento dos vários aspectos da relação terapêutica é relevante para todos os profissionais de saúde.

Uma relação terapêutica sólida é parte importante de qualquer tratamento. Sendo certo que dificuldades nesta poderão impedir o sucesso de qualquer terapêutica, a despeito de outras qualificações técnicas e habilidades do profissional.

Tradicionalmente a relação terapêutica é analisada sob o prisma da transferência e contratransferência, tais como concebidos por Sigmund Freud e estudados por todos psicanalistas.

Ainda que Freud tenha começado a perceber a ocorrência do fenômeno da transferência desde o início de sua prática analítica, como exposta em seus primeiros escritos, foi em 1910 com os textos Cinco Lições de Psicanálise e As Perspectivas Futuras da Terapêutica Analítica que o criador da Psicanálise expôs claramente seu conceito.

Posteriormente o conceito de Transferência passou a ser elemento central e fundamental no processo analítico. Em seus escritos A dinâmica da transferência de 1912, Recordar, repetir e elaborar de 1914, Observações sobre o amor transferencial de (1915), Freud elegeu a análise e interpretação da transferência como elemento essencial da técnica psicanalítica.

Freud identificou a transferência como um processo pelo qual o paciente projeta ou transfere ao terapeuta sentimentos, desejos, impulsos e fantasias inconscientes, ou seja, desejos e sentimentos que não estejam muitos claros ao paciente. Posteriormente Freud iniciou o estudo do fenômeno da contratransferência, relativo aos sentimentos e reações do analista à pessoa do analisando, conceito este ampliado por Sándor Ferenczi.

Freud foi brilhante ao identificar e teorizar a respeito do fenômeno da transferência e contratransferência, porém outros elementos presentes na relação terapêutica devem ser identificados pelo terapeuta ou pelo profissional de saúde.

A importância do estudo e do conhecimento de todos os processos presentes na relação terapêutica tem sido objeto de estudo em outras abordagens psicoterapêuticas como as terapias cognitivo-comportamentais.

Outros dois aspectos importantes da relação terapêutica e que necessitam ser conhecidos e estudados são a relação real e a relação de trabalho. Conforme Kristensen e Kristensen (orgs.), na obra A Relação Terapêutica nas Terapias Cognitivo-comportamentais, 2024, incluindo a transferência e contratransferência, estas seriam as três faces da relação terapêutica.

Estes três aspectos estariam presentes desde o início de qualquer terapia. Afirmam ainda Charles Gelso e Mira An, na mesma obra, que estes três elementos se desdobram, se relacionam e interagem ao longo de todas terapias.

A relação real pode ser entendida, de acordo com estes autores, como o alicerce de qualquer terapia, representando a “conexão pessoa a pessoa entre o terapeuta e o paciente”. Ela não estaria relacionada exatamente com o trabalho ou questões técnicas, mas com o relacionamento pessoal entre duas pessoas, envolvendo aspectos como comunicação verbal e não verbal, bem como aspectos conscientes e inconscientes que estariam envolvidos na relação.

Dois aspectos estariam presentes na relação real e seriam fundamentais no entendimento deste aspecto da relação, que seriam o realismo e a genuinidade. Qualidades desses aspectos seriam relevantes como a intensidade ou magnitude da relação, bem como o grau de positividade ou negatividade dos sentimentos e do comportamento dos participantes dessa relação.

Destaca-se, no aspecto relação real, que sentimentos positivos e negativos estão presentes em qualquer relacionamento humano, porém a relação e os resultados terapêuticos serão tanto maiores e a relação poderá ser considerada consistente na medida em que sentimentos positivos forem superiores aos sentimentos negativos. Outro aspecto importante é que em relações consistentes, o processo terapêutico e a relação se estreitam à medida que a terapia segue.

Outro aspecto ou face da relação terapêutica é a aliança de trabalho, entendidas estas como disposições conscientes com o propósito de encontrarem caminhos para as dificuldades do paciente no enfrentamento de seus sintomas e conflitos.

Tal propósito pode parecer óbvio nas relações, mas algumas vezes poderão não estar presentes, sobretudo por parte do paciente que poderá buscar a terapia com expectativas diversas do terapeuta na busca de mudanças de atitudes.

Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra – CRM 55945 | RQE 33048

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