Maslow foi um autor ou pesquisador que se dedicou intensamente à procura de elementos que poderiam definir uma personalidade saudável. Diferentemente, Freud procurou entender o funcionamento de pessoas neuróticas e explicar seus sintomas a partir de uma “matriz” que poderia ser comum aos seres humanos
independentemente de sua cultura.
A procura incessante pelo conhecimento da estrutura básica da natureza humana foi uma constante em muitos estudiosos do comportamento humano. Todos contribuíram com inúmeros aspectos da personalidade que nos ajudam a entender o humano, suas alegrias, realizações, seus fracassos e doenças.
Em que medida as “doenças” ou patologias são um parâmetro fidedigno para o estudo da natureza humana, na medida em que se pode falar em tal conceito?
Maslow acreditou e pesquisou por elementos para definir uma “personalidade saudável”.
Entre tais elementos, conforme artigo anterior, destacam-se: extensão do senso de self;
relação cordial do self com outros; segurança emocional e autoaceitação; percepção
realista do ambiente e capacidade de insight e humor.
Seguindo as características de uma personalidade saudável, Maslow identificou necessidades do humano, como necessidades psicológicas, segurança, amor e pertencimento, estima e uma necessidade realizada em menor escala que seria a chamada “autorrealização”.
Na procura pela definição daquilo que poderia ser definido como “um bom ser humano”, Maslow identificou que a presença de segurança emocional e boa adaptação não seriam elementos suficientes para que se definisse um bom ser humano. Além de terem superado necessidades básicas de subsistência e um senso verdadeiro de autovalorização, teriam adquirido uma série de valores definidos como “valores B”.
Maslow se perguntava e todos nos perguntamos por que não atingimos a autorrealização? Na verdade, este estudioso apresentava um número bastante pessimista. Entendia que apenas 1% da população sadia dos EUA seria
autorrealizada e enumerou 15 características desse grupo restrito de pessoas.
Tais pessoas teriam uma “percepção mais eficiente da realidade”, não se enganando pelas aparências, mas identificando o verdadeiro e o falso nos outros. Conseguiriam ver o mundo de forma realista, não
preconceituosa e não como gostariam que o mundo fosse. Seriam capazes de enfrentar as dificuldades da vida com menos insegurança, suportando o desconhecido e reconhecendo sua incapacidade diante de
situações complexas e enigmas de difíceis soluções. Não adotariam soluções míticas ou simplistas para questões importantes e desafiadoras no entendimento de nosso mundo.
Como corolário da primeira característica, apresentariam “aceitação de si, dos outros e da natureza”.
A capacidade de autoaceitação seria um elemento importante, o que envolveria um comportamento sem autocríticas excessivas ou vergonha pelos próprios defeitos, mas uma avaliação realista da necessidade de mudança. Haveria uma razoável tolerância pelas deficiências alheias, bem como um sentimento de não se sentir ameaçado pelas qualidades do outro.
Outra característica importante seria a “espontaneidade, simplicidade e naturalidade”. Seria uma qualidade, já defendida por Jacob Moreno, pioneiro do Psicodrama, entendendo a espontaneidade como uma capacidade de
responder a uma situação nova ou apresentar uma nova resposta para uma situação antiga de vida. Tais pessoas poderiam se comportar de maneira convencional por respeito aos outros ou de maneira inovadora quando necessário para a autorrealização, dispondo-se a sofrer as consequências de seus atos, como a censura ou críticas. Tais pessoas conseguiriam se sentir livres para expressar sentimentos e desejos sem preocupações com aparências.
Igualmente importante seria a capacidade de “centrar nos problemas”, ao contrário de se concentrarem em si mesmos ou de preocupações com o autoengrandecimento. Tal preocupação envolveria a escolha de problemas importantes a serem enfrentados, abandonando as questões menores. Envolveria o engajamento em uma atividade de muito significado para o indivíduo, muito além de uma atividade para apenas “ganhar a vida”.
Teriam, ainda, “necessidade de privacidade”, entendida como a capacidade de estarem sozinhas sem se sentirem solitárias e sem adotarem um estilo de vida recluso pela incapacidade de estabelecerem relações sociais. Não haveria um desinteresse pela vida social, mas interesse pelo outro, sem a preocupação com a obtenção de amor, atenção e aceitação.
Tais características não devem ser entendidas como uma relação extensiva, mas como princípios norteadores de pessoas que encontraram a chamada autorrealização. Outras características serão apresentadas em um próximo artigo, o que se justifica pela meticulosa pesquisa de Maslow. Ainda que Maslow não tenha apresentado a pretensão de estabelecer padrões a serem obtidos na busca da felicidade, situa-se no campo da Psicologia entender características que possam ser apontadas como sinais de uma vida psíquica saudável.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra – RM 55945 – RQE – 33048