A primeira pizza a gente nunca esquece

Quando fui convidada a escrever uma matéria para a nossa revista médica deste mês tive um apagão. Qual tema seria de interesse dos médicos? Qual tema ainda não abordei que fosse de suma importância à nossa prática clínica diária? A pneumologia é instigante e uma especialidade que, modéstia à parte, é simplesmente apaixonante, mas para esse mês resolvi ser ousada e inaugurar uma nova parte do nosso boletim, a parte dos “causos médicos”.

Quem aqui não se emociona quando lembra de algo que viveu durante a graduação, residência ou mesmo na prática clínica diária? A medicina é fonte inesgotável de conhecimento, aprendizado e sim, de histórias. Hoje vou contar para vocês uma história que se passou comigo, espero que gostem e abro esse espaço, que a APM gentilmente nos cedeu, para a troca de vivências e de experiências. Vamos lá?

Lá estava eu no auge dos meus 22 anos (ou seriam 23?), estreando no mundo do internato! A ansiedade me comia até o último fio de cabelo! Afinal como seria??? Me sentia pronta, pois sempre me dediquei e queria mais que tudo fazer parte daquele mundo! Munida apenas de um jaleco, uma caneta e um pacote de “halls preto”, para meu primeiro plantão de 24 horas na sala de emergência da clínica médica. Já havia ouvido todos os tipos de histórias que me esperariam nesse dia, desde pacientes graves com hemorragia digestiva alta até a ambulância chegando com paciente em parada cardíaca, qual atendimento, nós internos, praticamente ficávamos nos revezando na massagem cardíaca. Estava ansiosa, nervosa e pronta para encarar o caos e tudo que viesse com ele! Ou seja, eu estava totalmente iludida.

Chegando no hospital qual foi a minha alegria de já encontrar minha dupla de internato e pensar: não estou afundando nesse Titanic sozinha, UFA! Foi sim, um dia bastante agitado e fizemos de tudo: suturamos um paciente que havia caído da bicicleta e deixado o rosto no asfalto; ajudamos em quatro paradas cardíacas (das quais não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que finalmente consegui enxergar uma traqueia com sucesso, se é que vocês me entendem!); nos sobrou colher todas as gasometrias na sala de emergência, porque éramos os internos do dia, e felizmente não tínhamos nenhum fecaloma para quebrar, o que por sí só era uma raridade, já que essa também era uma de nossas atribuições! Foi um dia bem cheio e ao final dele, quando já havia passado meu dia a base de muito café e halls, e feito todas as prescrições na unha, nos juntamos aos internos da pediatria e pedimos uma deliciosa pizza! Quem nunca, não é mesmo? Eis que, com a nossa janta, chega junto uma parada cardíaca e nossos amigos da pediatria foram conosco ajudar. Deixamos nossa caixinha da alimentação do dia fechadinha e fomos aonde o dever nos chamava.

Ressuscitação feita com sucesso! Paciente estável e em IOT+ VM, aguardando transferência para a UTI! Nessa os internos brilharam! Vamos comer nossa pizza??? Sim, a pizza estava lá!!! Errou quem pensou que não estava, ou pelo menos parte dela estava… ao abrirmos a caixa haviam comido o recheio e deixado a massa! Até hoje não sei o que passou na cabeça da pessoa que fez isso. Ok, interno tem que se lascar mesmo e nós humanos aprendemos muito assim! Eu aprendi tanto que hoje não pulo uma refeição, a menos é claro, que o dever me chame ao mesmo tempo!

E você doutor(a), o que tem para nos contar?
Vamos participar? Mande sua história para a APM.
Será um prazer publicá-la.

Dra. Laura Deltreggia – Pneumologista | CRM 139.347 RQE 56673

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