Segundo o artigo The Anxiety Depression Pathway Among Men Following a Prostate Cancer Diagnosis: Cross-Sectional Interactions Between Anger Responses and Loneliness, publicado este ano no American Journal of Men’s Health, homens com câncer de próstata podem vir a desenvolver sintomas depressivos e/ou ansiosos.
A raiva pode ser uma forma de manifestação do sofrimento, especialmente quando o homem se encontra inserido em certo contexto no qual a expressão de outros sentimentos ou sintomas podem ser considerados como negativos (como uma fraqueza, por exemplo).
Entretanto, já se sabe que o sentimento de raiva também parece se associar a alterações da imunidade, além de comprometer a capacidade de se relacionar e ser responsável por posturas mais pessimistas, impactando no bem-estar geral. É comum também que a população masculina tenha uma relação pouco adaptativa em relação ao sentimento de raiva, tentando suprimi-la — o que pode levar a mais sintomas ansiosos e depressivos.
Como a intenção era estudar de que forma esses pontos se relacionam, partiram para um estudo transversal com 105 homens canadenses com câncer de próstata. O estudo foi realizado através da internet com uma amostra por conveniência e todos os que completassem os questionários teriam a oportunidade de concorrer a um prêmio em dinheiro. O objetivo era avaliar as dimensões da raiva e sua relação com a solidão e os sintomas depressivos e ansiosos nesta população.
No geral, encontraram associações entre ansiedade, raiva, solidão e depressão nesta amostra de homens com câncer de próstata. Sintomas leves
de depressão, ansiedade e autoinjúria/autolesão foram até mais frequentes do que os encontrados em outros trabalhos. Apesar de a sobrevida em 5 anos após o diagnóstico desse tipo de câncer se alta (93%), muitos pacientes podem sofrer de forma prolongada com suas consequências, como redução da qualidade de vida até com o efeito do tratamento.
Em relação à depressão, os autores dividiram suas queixas em 2 grupos: os sintomas afetivos e os somáticos. Neste trabalho, os autores encontraram mais relações com os sintomas afetivos, o que pode indicar que as questões relativas às relações contribuem para a experiência emocional desta população.
Os resultados sugerem que as consequências sociais da raiva — até mais do que o próprio sentimento em si — também contribuem para os sintomas
afetivos da depressão.
Sobre a raiva, embora estudos indiquem que este seja um sentimento comum entre homens, especialmente naqueles que aderem a certos valores considerados tipicamente masculinos em determinadas culturas (ex: ser invulnerável, forte e competitivo), seu impacto sobre aspectos psicológicos ainda são negligenciados.
Esta também pode ser a razão por que homens evitam procurar atenção psicológica no contexto de doença. Outro ponto relevante diz respeito à possibilidade de os efeitos adversos do tratamento (ex: incontinência urinária ou disfunção sexual) poderem causar sentimentos de ansiedade e raiva.
Vários destes aspectos aqui discutidos podem ser modificados e/ou alvo de intervenção — como a ansiedade, a solidão e os fatores sociais ligados à raiva.
Ao atuar sobre eles, é possível que também haja um impacto sobre os sintomas depressivos nestes homens. Além disso, é necessário também considerar a repercussão desses sentimentos, sobretudo a raiva, sobre parceiros(as) e familiares e, portanto, sua relação com a solidão. Estratégias, como aceitação ou ressignificação, são possíveis formas de abordagem, buscando uma melhor qualidade de vida e melhoria do padrão de relacionamentos.
Um dos objetivos deve ser trabalhar as emoções ao invés de encorajar sua supressão. Neste ponto também há a necessidade de trabalhar os profissionais de saúde e sua formação para que possam reconhecer e abordar isso de uma melhor forma. Por isso, faz-se necessária uma reflexão sobre as questões socioculturais e crenças pessoais que podem impedir esses homens de buscar o apoio psicossocial que lhes beneficia, além de treinamento e educação para identificar e lidar com sentimentos desafiadores, como a raiva.