Para a grande maioria das pessoas, ter filhos faz parte de um processo natural e programado da vida, além da própria perpetuação da espécie. Ter filhos é considerado por muitos, uma benção divina! No entanto, quando esse processo passa a não acontecer dentro dos primeiros meses, às vezes anos, uma série de sentimentos como angústia, ansiedade, dor, dúvida e culpa, acabam impactando a vida conjugal e tornando um sonho distante de ser alcançado.
Atualmente 15% dos casais em idade fértil e com vida sexual ativa apresentam impossibilidade de engravidar, mesmo após um ano de tentativas, sendo essa a definição da OMS (Organização Mundial de Saúde) para definir infertilidade.
Por muito tempo os estigmas da infertilidade foram depositados somente na mulher, porém, hoje já se sabe que a origem da dificuldade, na verdade é bem dividida: cerca de um terço dos casos de infertilidade são causados por alguma condição exclusiva do homem, um terço tem origem apenas na mulher, e um terço tem participação de ambos.
É fundamental que os casais procurem ajuda especializada após um ano de tentativa, quando a mulher tiver menos de 35 anos, e a partir dos 36 anos essa avaliação deve iniciar após seis meses de tentativa, tendo em vista a queda na fertilidade da mulher após essa idade.
Um dos principais exames a ser realizado pelo homem é o espermograma. Nele é feito uma análise criteriosa da quantidade, motilidade e morfologia dos espermatozoides, além de outras informações sobre o sêmen. A interpretação desse exame é fundamental ser realizada por um médico especialista em reprodução humana, que irá fazer uma avaliação global da saúde desse homem como um todo – envolvendo desde o histórico familiar e hábitos de vida, avaliação física e hormonal, e até mesmo a exames genéticos.
Diversos fatores podem contribuir para a infertilidade masculina, dentre os principais podemos citar:
VARICOCELE
é a principal causa de infertilidade tratável e consiste em uma dilatação anormal das veias dos testículos, que surge ainda na puberdade e contribui para um declínio gradativo na produção de espermatozoides ao longo dos anos.
HÁBITOS DE VIDA
estresse, obesidade, abuso de álcool, uso de drogas e anabolizantes podem afetar diretamente a produção e qualidade dos espermatozoides. Seja por um dano direto ao gameta masculino, ou por alterações metabólicas e/ou hormonais.
GENÉTICAS
alterações cromossômicas, principalmente quando afetam o cromossomo sexual Y, geralmente cursam com produções extremamente baixas de espermatozoides, ou até a completa ausência destes, quadro conhecido como azoospermia.
INFECCIOSAS
infecções sexualmente transmissíveis como gonorreia e clamídia, podem danificar estruturas nos testículos comprometendo desde a produção até o transporte dos espermatozoides. Infecções virais, como sarampo e mais recentemente a Covid-19, também podem produzir em alguns casos, prejuízo na fertilidade.
DOENÇAS CRÔNICAS
diabetes, doenças reumatológicas, tireoidites podem comprometer de maneira significativa o processo de produção, transporte e qualidade do sêmen.
MEDICAMENTOS
remédios como finasterida para o tratamento de calvície, além de anticonvulsivantes, antidepressivos e alguns antibióticos- como tetraciclina, estão associados a prejuízo no potencial fértil masculino.
ONCOLÓGICAS
tratamentos de quimioterapia e radioterapia geralmente são extremamente nocivos e permanentes para a fertilidade, de tal forma, que todo homem que será submetido a esse tipo de tratamento deve ser orientado sobre maneiras de se preservar a fertilidade caso tenha desejo de ter filhos no futuro.
AMBIENTAIS / EXTERNAS
recentemente diversos estudos têm demonstrado que os ftalatos, como por exemplo o Bisfenol-A, uma substância química adicionada ao plástico para aumentar a sua resistência, muito utilizado em embalagens, brinquedos e cosméticos são nocivos à saúde. Por atuarem como disruptores endócrinos e afetando a produção de testosterona, levando a quadros de baixa produção de espermatozoides.
O tratamento da infertilidade masculina é multifatorial envolvendo desde a correção cirúrgica da varicocele, ajuste hormonais e até mesmo uma simples mudança no estilo de vida. Nas últimas duas décadas com o advento de novas tecnologias na área da reprodução humana assistida, aliado ao constante aprimoramento dessas técnicas, como a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), tornou-se possível que homens com quadros graves de infertilidade alcançassem a paternidade, onde no passado seria algo inalcançável.
Dr. Gustavo Bordenali – Urologista especializado em infertilidade masculina