A tuberculose é talvez uma das doenças mais antigas da humanidade. Existem relatos de múmias de mais de 3000 anos com a presença da doença em seu esqueleto, porém sua disseminação e aumento se deu predominantemente com o decorrer da urbanização da Europa, sendo posteriormente conhecida como a peste branca.
Também conhecida como tísica, durante muitos anos a doença não teve possibilidade de cura, e algumas vezes vinha a ser tratada como quadro crônico pulmonar supurativo, já em outros casos o indivíduo era consumido até a morte. Tudo mudou com o advento dos antibióticos. Hoje somos capazes de oferecer um tratamento eficaz com a cura da doença e seguimento de posteriores lesões pulmonares residuais.
De fato, houve um avanço importante em termos epidemiológicos, porém ainda residimos em um país onde a tuberculose tem característica endêmica e após a pandemia de COVID estima-se que haverá um incremento no número de casos, isso porque muitos casos não foram diagnosticados ou houve atraso no diagnóstico, bem como tratamento.
Sabe-se também, que um quarto da população mundial é portadora de tuberculose latente e efetivamente 5% desses, virão a desenvolver a doença por alterações no sistema imune, sendo assim, será que atingiremos o objetivo de erradicar a
tuberculose até 2030?
A resposta é não. De forma objetiva é muito difícil que esta doença seja erradicada, mas muitos avanços foram feitos e estão sendo progressivamente adotados para que seu combate e controle sejam eficazes.
Hoje, no Brasil, dispomos de métodos diagnósticos mais rápidos e seguros como o Teste Rápido Molecular (TRM-TB) que permite diagnóstico em 2 horas e a possibilidade de saber se o caso apresenta resistência a rifampicina (droga fundamental para o tratamento da doença), além disso, foi integrado no SUS o exame Igra, que em casos específicos pode ser solicitado para diagnóstico de tuberculose latente.
Já nos casos de pacientes portadores de tuberculose multidroga resistente, a CONITEC recentemente aprovou o uso da pretomanida, corroborando uma decisão da OMS, possibilitando a cura da doença para muitos pacientes.
Certamente, a pandemia fez com que déssemos alguns passos para trás, porém ainda é possível retomar e adotar medidas incisivas na atenção primária para que a doença venha a ter novamente queda em sua incidência. Ações em saúde pública deverão ser inseridas, bem como medidas de controle, orientação a população quanto aos sintomas e inserção do médico da atenção básica a buscar ativamente os casos e fornecer ferramentas para diagnosticar e tratar os casos ativos e os portadores de tuberculose latente. A tuberculose hoje, não é mais o “Pneumotórax” do estimado escritor Manoel Bandeira, mas ainda sim é uma doença digna da nossa atenção e cuidado.
Dra. Laura Deltraggia – Pneumologista – CRM: 139.347 – RQE: 56673