A Psicanálise surgiu no século XIX com os trabalhos de Freud, sendo seguido por inúmeros psicanalistas, principalmente no século XX. Freud foi pioneiro em elaborar um método de tratamento e uma teoria de personalidade, causando grande impacto no mundo acadêmico e na cultura ocidental de modo geral.
Ainda hoje a Psicanálise sofre ataques de cientistas que a consideram não científica, sem uma metodologia de pesquisa rigorosa e sujeita a subjetividades nas avaliações de pacientes. Entendem os críticos, que só o método científico aplicado nas ciências naturais seria verdadeiro e que a impossibilidade de utilização do método experimental nas ciências humanas tornaria seus resultados não-científicos.
De fato, as ciências humanas trabalham com fatos e avaliações que não são passíveis de quantificação e não ocorrem dentro de uma determinada ordem, não sendo possível a avaliação de causa e efeitos de forma precisa como nas ciências naturais.
O objeto de estudos das ciências humanas é o homem em suas múltiplas e inseparáveis dimensões, como a política, histórica, psicológica, social, entre outras. Há ainda que se considerar que o pesquisador/observador se encontra envolvido em um contexto histórico, psicológico, social e político determinado, ainda que não seja o mesmo contexto do humano objeto de estudo. Sendo assim, a subjetividade e a atitude interpretativa do observador devem ser consideradas.
Ainda que não se apliquem os métodos das ciências naturais às ciências humanas, não se pode duvidar de sua importância na história da humanidade, principalmente no estudo e conhecimento do comportamento humano.
A discussão sobre a importância do método de estudo das ciências naturais e dos métodos utilizados pelas ciências humanas se torna complexo ao se pesquisar o comportamento humano. Tudo indica que todos estudos e contribuições são úteis no entendimento do ser humano em seu aspecto psicológico e comportamental.
No início do século XX surgiu uma teoria ou abordagem chamada de “behaviorismo”, a partir dos estudos de E. L. Thorndike, John Watson e B. F. Skinner, sendo este último aquele que mais se destacou e difundiu as ideias do comportamentalismo.
Acreditavam os defensores do behaviorismo que pesquisas com comportamento animal poderiam ser úteis no entendimento do comportamento humano, bem como se deveria dar relevância ao comportamento observável, ainda que elementos como pensamentos, lembranças, sentimentos façam parte do funcionamento psíquico.
A evitação de teorias a respeito de ego, impulsos, necessidades, catexias, entre outros, seria uma característica de um enfoque de estudos que ficou caracterizado como “behaviorismo radical”, neste, a ênfase foi dada ao comportamento observável.
Ainda que os métodos de estudo e análise do behaviorismo sejam muito distintos dos métodos utilizados pelas ciências humanas em geral e pela Psicanálise em particular sejam distintos, ambos têm por objeto o humano em sua dimensão psíquica e comportamental, sendo complementares e não necessariamente antagônicos.
Há ainda que se considerar que ambos os métodos têm como características o determinismo e ambientalismo. Determinismo na medida que ambas as correntes de pensamento e estudos entendem que o ser humano não dispõe do chamado livre-arbítrio, ao menos não em sua plenitude, bem como ambientalista na medida em que consideram a importância do ambiente no comportamento humano. Na Psicanálise freudiana o ambiente estava em grande parte restrito ao ambiente familiar, mas outros seguidores de Freud se dedicaram a estudar a importância de outros fatores sociais no funcionamento psíquico. Já no behaviorismo, todo o enfoque se dava na importância do ambiente no desenvolvimento e comportamento humano, ambiente este entendido em seu contexto amplo, como o familiar, social, político, entre outros.
Ao contrário da Psicanálise que defendia a pesquisa por fantasias e narrativas que pudessem conduzir a teorias sobre o funcionamento psíquico e o comportamento, o behaviorismo se concentrava no estudo observável do comportamento, ou seja, na avaliação de elementos observáveis e que esta análise permitiria uma interpretação do comportamento humano, mas não de suas causas.
Em termos práticos, Thorndike acreditava que os efeitos das recompensas seriam mais importantes que os efeitos das punições no comportamento humano, bem como Watson acreditava que a Psicologia seria mais eficaz em seus estudos se tivesse por objetivo de estudo os hábitos que decorreriam das conexões estimulo-resposta. Já Skinner observou que estudos com animais poderiam ser aplicáveis ao comportamento de crianças e adultos.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55945 – RQE 33048