A ansiedade continua sendo o principal motivo que leva as pessoas a procurarem psiquiatras e psicólogos. Tal era a situação ao longo do século XX e permanece a mesma ainda hoje. Não foram poucos os psicoterapeutas e psicanalistas que se dedicaram à procura de causas sociais e ambientais para identificar as causas desta situação.
Assim como Erich Fromm havia identificado que o distanciamento da natureza havia proporcionado ao humano novas oportunidades, mas também grandes dificuldades, sendo a ansiedade básica um de seus principais desafios, Rollo May se utilizou do existencialismo, filosofia predominante ao seu tempo, para identificar as angústias fundamentais do ser humano naquele contexto histórico.
O existencialismo influenciou fortemente a psicologia do século XX, assim como as artes, notoriamente nas figuras de Picasso, Matisse e Cézanne, bem como a literatura, em expoentes como Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Martin Buber, Paul Tillich, entre outros.
O princípio do existencialismo se dá com o filósofo e teólogo SØren Kierkegaard (1813-1855), o qual se opunha à visão do ser humano como objeto, mas também se recusava à visão de que as impressões subjetivas seriam a única realidade do sujeito. Buscou ainda superar a dicotomia entre razão e emoção, evidenciando a importância da experiência imediata.
Kierkegaard igualmente enfatizou que a expansão da autoconsciência promoveria um equilíbrio entre liberdade e responsabilidade, lembrando, entretanto, que esta aquisição de liberdade e responsabilidade seria acompanhada de um aumento na ansiedade.
Entendia, desta forma, que a ansiedade não seria um mal em si, mas uma consequência natural da evolução pela aquisição de liberdade e responsabilidade.
Inicialmente o trabalho de Kierkegaard teve pouca repercussão, porém influenciou a obra de Nietzsche e Heiddeger, este último marcando fortemente a obra dos psiquiatras Karl Jaspers, Ludwig Binswanger, Medard Boss e a psicoterapia de Victor Frankl.
O existencialismo foi elaborado por inúmeros pensadores e apresenta múltiplas abordagens. Há, entretanto, alguns conceitos fundamentais que são aceitos por psicólogos e filósofos como definidores do existencialismo.
Dentre todos os conceitos, figura como principal a ideia de que a existência precede a essência. Para o existencialismo a ideia de existência tem grande valor pois significa um processo que envolve mudança, ao contrário da essência que se apresentaria como algo estático ou imutável.
Existência para o humano seria sua capacidade de definir em um processo contínuo de escolhas. Um segundo aspecto importante do existencialismo é que este se opõe à dissociação entre sujeito e objeto. A verdade não estaria em um destes polos.
Não estaria no sujeito ou no objeto, mas entre eles. A verdade para o humano estaria numa vida autêntica, conceito este muito caro à psicologia e à psicoterapia. De fato, independentemente da linha de psicoterapia, esta sempre tem por objetivo levar aquele que se submete ao processo terapêutico ao encontro de uma vida autêntica.
Um outro elemento fundamental do existencialismo seria a busca de um significado para a vida. Significado este de caráter absolutamente individual, apartado de qualquer princípio ideológico ou religioso, ainda que com estes possa confluir em situações específicas e individuais. Tal seria o fundamento da linha de psicoterapia de Victor Frankl, bem como de outros psicoterapeutas.
Outra ideia extremamente importante seria a de responsabilidade, conforme assinalou o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre. O homem não pode se furtar a tomar decisões e se responsabilizar por elas, por piores que sejam as condições nas quais se encontra. Nós nos tornamos aquilo que escolhemos e somos responsáveis por isso. Ainda que tentemos evitar as escolhas, esta atitude não deixa de ser uma escolha.
Rollo May concluiu seu bacharelado em 1930 em Ohio, quando viajou para a Europa e tentou a vida como professor e artista. Conheceu Alfred Adler e Harry Stack Sullivan e identificou-se com o trabalho do terapeuta ao entender que a psicoterapia pode mudar a vida do paciente e do próprio terapeuta. Foi, entretanto, ao aplicar os princípios do existencialismo à psicoterapia que May tornou-se famoso e esta foi sua grande contribuição à Psicologia.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra – CRM 55.945 | RQE 33.048