Rollo May: Liberdade de Escolhas e Subjetividade

Rollo May, diferentemente de Freud, M. Klein, Adler, Jung, não criou uma nova escola de psicoterapia com técnicas específicas e uma teoria de constituição da personalidade alternativa. De modo geral, pode-se afirmar que os terapeutas existenciais não possuem um conjunto de métodos especiais que possam ser aplicados a todos os pacientes.

As psicoterapias com fundamentos no existencialismo indicam o caminho do encontro terapeuta-paciente como norte do trabalho clínico. O terapeuta teria como ferramenta de trabalho a entrega da própria humanidade. A ideia básica seria que a partir deste encontro e desta vivência o paciente se torne capaz de ter uma consciência ampliada de si mesmo e possa fazer suas escolhas e escolher seu destino, o que envolve sentimentos de angústia, desespero e culpa.

A experiencia relacional torna-se extremamente relevante para o desenvolvimento do processo terapêutico, porém não se pode pressupor que este processo seria algo exatamente semelhante a uma relação de amizade. Na relação terapêutica o terapeuta deve apresentar empatia pela experiência do paciente e estar aberto a conhecer seu mundo subjetivo, desembaraçado de ideologias, crenças ou pressupostos, ou críticas de natureza moral.

Tal abertura ao mundo interno do paciente não se dá em Rollo May com o mesmo enfoque de Carl Rogers, o qual fala “aceitação incondicional”. Na verdade, May acreditava na importância de uma atitude de desafio e confrontação por parte do terapeuta. Ainda que houvesse muito em comum entre ambos os terapeutas, May acreditava em um papel mais ativo do terapeuta, questionando elementos da infância do paciente e sua relação com dificuldades atuais.

Importante destacar que a atitude do terapeuta ao realizar desafios e confrontações no atendimento de pacientes é uma questão extremamente delicada e representa o aspecto mais difícil do processo terapêutico. Muitos terapeutas têm dificuldades em assumir este importante papel e justificam suas deficiências na importância de não realizar julgamentos morais ou críticos nos relatos de pacientes. Tais deficiências podem limitar a eficiência da terapia e reforçar a ideia que muitos pacientes têm de que o processo terapêutico é apenas um “desabafo”.

May atento aos pressupostos do existencialismo entendia que o elemento mais importante na clínica seria ajudar as pessoas a experimentarem sua existência e que o alívio dos sintomas seria apenas um aspecto da psicoterapia. Tal experiência seria libertadora, permitindo aos pacientes serem mais livres e humanos, proporcionando o alívio dos sintomas neuróticos. Desta forma a ansiedade neurótica e o sentimento de culpa neurótico seriam substituídos pela ansiedade e culpa normais.

As críticas à abordagem terapêutica de Rollo May se alinham às mesmas críticas dirigidas à Psicanálise como um todo. A ideia central que se opõe a abordagem terapêutica de tais analistas é de que haveria a ausência da aplicação de um método propriamente científico e que estas abordagens estariam alicerçadas em conceitos filosóficos. Tal carência impossibilitaria a elaboração de hipóteses que poderiam confirmar ou refutar seus pressupostos.

Ainda que as ideias de Rollo May não tenham abordado questões importantes da Psicologia como desenvolvimento cognitivo e aprendizagem, a prática psicoterapêutica baseada em conceitos filosóficos se mostra útil na medida em que aborda questões vivenciais extremamente relevantes à condição humana como ansiedade, culpa, temor da morte, liberdade, entre outros.

Um conceito essencial para May seria o de que o homem moderno se distanciou de si mesmo na medida em que renunciou ao conhecimento de si mesmo. A busca do próprio self seria uma necessidade premente na vida moderna, entendido próprio self como verdadeiro self, ou seja, como a reconquista da própria subjetividade. Tal reapropriação poderia proporcionar a possibilidade do exercício da liberdade e da realização de novas escolhas, escolhas estas que não podem se divorciar da ação, quando se tornam apenas desejos ou sonhos.

Rollo May, da mesma forma que outros terapeutas existencialistas, privilegiou a teleologia em prejuízo da causalidade. Sua força argumentativa pode parecer precária em relação ao conjunto da teoria psicanalítica, porém sua importância na clínica se evidencia pela ideia de que o paciente não se limita a um conjunto de causas a ser compreendido, mas a um ser que, independentemente do processo terapêutico, continua fazendo escolhas, agindo e sofrendo as consequências de seus atos.

Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55.945 | RQE 33.048

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