As teorias e o pensamento de Karen Horney envolvem múltiplos aspectos do desenvolvimento da personalidade, do conceito de ansiedade básica e atitudes de defesa. Representante da chamada corrente culturalista da Psicanálise, Horney, assim como Fromm e outros, defendeu a ideia de que não seriam apenas aspectos biológicos que determinariam o comportamento humano, mas que este seria influenciado de forma importante por questões culturais e sociais.
A questão da psicologia feminina foi um elemento importante de contestação da Psicanálise de Horney em relação à teoria psicanalítica clássica, tal como proposta por Freud. Isto não significa que ela negasse a existência do Complexo de Édipo, mas entendia que este era uma possibilidade decorrente de questões culturais e ambientais. Não seria um fenômeno que ocorreria em todas as pessoas e estaria relacionado à necessidade de amor e à ansiedade básica. Esta se iniciaria na infância e levaria ao apego a um dos pais e hostilidade ao outro. Teorizou ainda que, mesmo presente algum aspecto sexualizado no apego, o objetivo seria a busca de segurança e amor.
Horney defendia a ideia de que diferenças psíquicas entre homens e mulheres não seriam consequência da biologia ou anatomia, mas decorreriam de experiências relacionadas à cultura e à sociedade, portanto distintas para determinados grupos e culturas. A necessidade de dominação dos homens sobre as mulheres, bem como o desejo de humilhação das mulheres sobre os homens decorreriam da ansiedade básica e seriam de natureza neurótica e poderiam estar relacionadas a aspectos de competitividade comuns em algumas sociedades.
Outro aspecto importante da teoria freudiana clássica, objeto de contestação não apenas por K. Horney, mas por muitos autores, foi
postulado da chamada “inveja do pênis”. A psicanalista alemã entendia que a hipótese de que as meninas teriam inveja do pênis não poderia se sustentar em termos anatômicos ou biológicos.
Acreditava que seria possível e que muitas mulheres poderiam apresentar o chamado “protesto viril”, tal como proposto por Adolf Adler, mas que
este seria uma característica neurótica caracterizada pela crença imaginária de que os homens seriam superiores às mulheres.
Tal crença muito frequentemente estaria vinculada a um desejo por privilégios masculinos presente em muitas culturas.
As ideias e contribuições de Horney para a teoria da psicanálise levaram igualmente a importantes propostas em relação ao trabalho em psicoterapia. As condutas e comportamentos de caráter
neurótico no sentido de afastarem a ansiedade básica poderiam trazer algum conforto temporário, porém terminariam por produzir limitações e por impedir que a pessoa pudesse encontrar e realizar seu verdadeiro self, gerando sintomas e produzindo o exacerbamento dos mesmos comportamentos defensivos.
Conforme descritos em artigos anteriores, o comportamento neurótico acaba por gerar uma autoimagem idealizada e uma busca infrutífera pela glória, a qual frequentemente leva ao auto ódio e suas consequências. O psicoterapeuta, nesse sentido, teria a missão de convencer o paciente a deixar essa ideia idealizada de si mesmo e entender todo esse processo que perpetua o sofrimento. Tal tarefa seria extremamente difícil, uma vez que o paciente tende a resistir e acreditar que o abandono de seus comportamentos defensivos pode colocá-lo em situações de fragilidade.
A concepção de resistência, portanto, apresenta importante diferença em relação à terapia freudiana clássica, já que o objeto de temor não está necessariamente relacionado a um desejo, mas às falsas garantias que o comportamento defensivo e neurótico proporciona.
Outra ideia importante em relação ao processo terapêutico é que este depende da capacidade de auto entendimento do paciente. Por mais que o terapeuta possa demonstrar a ocorrência de comportamentos neuróticos de defesa e os prejuízos causados por uma auto imagem idealizada, o conhecimento de seu verdadeiro self e o sucesso da terapia é decorrência de um processo de auto análise.
Ao contrário das sofisticadas teorias de Freud, M. Klein e Lacan, a teoria e diretrizes de psicoterapia de Horney são simples e funcionais, além de deixarem espaço para acréscimos decorrentes de mudanças culturais e temporais.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra – CRM 55945 33048