O hábito de fumar é um dos principais causadores de doenças evitáveis em todo o mundo. Ele está atrelado a morte por doenças cardiovasculares, respiratórias e diversos tipos de cânceres. Contudo, ainda assim existe uma dificuldade muito grande de abandonar essa dependência para buscar uma vida mais saudável.
O Brasil é hoje, um país exemplar quando se pensa em medidas adotadas ao combate ao fumo.
Na década de 1980 estimava-se que cerca de 30% da população era tabagista. Hoje sabemos que este número não chega a 10%, graças a todas as políticas públicas adotadas, tais como aumento de impostos sobre o cigarro, proibição de fumar em lugares fechados, divulgação quanto aos malefícios do cigarro em suas embalagens e, principalmente, medidas educacionais quanto aos danos provocados pelo hábito de fumar, atingindo toda a população jovem, e prevenindo que ela inicie o uso do tabaco.
Não obstante, ainda temos esses 10 % que precisam de ajuda para cessar o tabagismo. Considerando que a nicotina gera dependência, a abordagem do tratamento de um tabagista deve ser inserida em dois pilares fundamentais que abrangem o tratamento medicamentoso e a terapia cognitivo comportamental, ou seja, um complementa o outro. Assim, quando pensamos em terapia medicamentosa ela está inserida principalmente nos indivíduos cujo risco de síndrome de abstinência relacionada a nicotina é maior.
Atualmente o Sistema Único de Saúde promove diversos grupos para cessação de tabagismo, nos quais são oferecidas dois tipos de terapias medicamentosas, a Bupropriona e a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN). Ambas podem provocar efeitos colaterais, como sensação de boca seca, insônia, náuseas e muitas vezes, acabam se tornado intoleráveis aos pacientes que optam por cessar o tratamento.
Recentemente, dados foram publicados de um estudo referente a droga cistisiniclina, ou cistina, cuja ação está relacionada a ligação aos receptores de nicotina cerebral. Dessa forma, esta droga atua de maneira semelhante a outros medicamentos já utilizados como a vareliclina, porém apresenta menos efeitos colaterais, sendo assim, mais tolerada e aumentando as taxas de sucesso com relação a cessação de tabagismo, sendo uma droga promissora, mas ainda sem nenhuma previsão para entrada no mercado brasileiro.
De fato, hoje estamos em uma situação mais confortável quando pensamos na abordagem do paciente com dependência a nicotina. Sabemos que esta dependência deve ser abordada de forma multidisciplinar, e tendo em vista seu tratamento individualizado. Contudo, devemos estar sempre atentos aos riscos que as próximas gerações podem vir a enfrentar com o aumento da incidência de jovens utilizando cigarros eletrônicos, ou pods. Nesses casos ainda não existem estudos suficientes que sustentem as formas de abordagem terapêutica e tratamento medicamentoso para este tipo de dependência, que sem dúvida, no futuro se tornará um grande problema de saúde pública.
Dra. Laura Deltreggia – Pneumologista – CRM 139.347 RQE 56.673