Melanie Klein e um Novo Enfoque da Psicanálise

Sigmund Freud foi o “pai” da Psicanálise. Sua contribuição para a Psicologia e a Medicina são incomensuráveis. Idealizou um método de tratamento inovador para transtornos psíquicos e pensou o desenvolvimento psicológico desde a infância como ninguém até então o fizera de forma tão determinada e ousada. Além de narrar e postular etapas no desenvolvimento psicológico da criança e propor um tratamento efetivo para transtornos que não poderiam receber tratamentos farmacológicos, ao menos naquele momento, foi um pensador da cultura.
Talvez a análise da cultura e do homem em sua dimensão mais ampla tenha sido o grande feito de seus trabalhos e de sua produção científica.

Muitos de seus discípulos e colaboradores desenvolveram ideias próprias a cerca da estrutura psíquica e do tratamento adequado de doenças e condições mórbidas. Carl Jung, Alfred Adler, Karen Horney, foram alguns de seus seguidores, os quais, tenham tido contato direto com o fundador da Psicanálise ou não, foram psicanalistas que partiram de um mesmo corpo de conhecimento teórico e terapêutico e criaram teorias e métodos próprios.

Entre seus principais seguidores destaca-se Melanie Klein. Austríaca e de família da religião judaica como Freud, não teve formação médica, a qual era muito frequente entre os primeiros psicanalistas. A psicanalista vienense, se não contrariou ou contestou frontalmente as ideias de Freud a cerca do desenvolvimento psicológico da criança, mudou o foco de análise do desenvolvimento da criança dos primeiros contatos desta com a díade parental para as primeiras relações do bebê com a mãe, sobretudo com o seio materno e supostas fantasias estabelecidas com este.

A biografia de Melanie Klein inevitavelmente favoreceu seus postulados teóricos. Era uma mulher e vivenciou a maternidade. Acreditava que seu nascimento não havia sido planejado e considerava-se preterida pelo pai, por acaso médico como Freud. Desejou seguir a carreira médica de seu pai, ainda que este não tenha sido um profissional bem sucedido, inclusive no aspecto financeiro. Sentia-se negligenciada pelo pai e sufocada por sua mãe. Perdeu o pai, o irmão e a irmã que a apoiavam e acreditava que seu casamento a impediu de realizar o sonho de tornar-se médica, fato que ruminou por toda a vida.

Analisou seu filho Erich, assim como Freud analisou a própria filha Anna Freud. Tentou ainda analisar seu filho Hans e sua filha mais velha Melitta, a qual se tornaria sua franca rival posteriormente. Consideram alguns que Klein teria analisado seus próprios filhos por temer que sua análise por outros psicanalistas, o que era muito comum ao seu tempo, pudesse expor as mazelas de sua família. Sua mãe, Libussa, teria sido mulher de personalidade muito forte, matriarca e na descrição da biógrafa Grosskurth era “uma mulher tirânica, possessiva e destruidora”, manifestando desprezo pelo marido 24 anos mais velho. Grosskurth afirmou ainda que Melanie seria uma depressiva crônica. Importante ressaltar que entre os seguidores de Melanie Klein se destacam mulheres, sobretudo Johan Riviere, Hanna Segal, Suzan Isaacs e Paula Heimann.

As divergências com sua filha Melitta, a qual se tornou psicanalista e membro da Sociedade Psicanalítica Britânica, não se restringiram ao contexto familiar. Houve, na verdade, uma grande divisão na Sociedade Psicanalítica. Ocorreu a formação de três grandes grupos. Havia o grupo de Melanie Klein, o grupo de da Anna Freud e Glover e um terceiro que tentava uma conciliação.

As ideias de Melanie Klein prevaleceram na Sociedade Britânica e na América Latina, havendo pouca penetração nos EUA e no restante da Europa. A divisão foi grande e provocou reações apaixonadas, como a declaração de James Strachey: “me dão lástima as pobres crianças que caem em suas garras”, ou de Roudinesco que “Melanie, com sua personalidade invasiva, provocou à sua volta paixões e repulsas”.

As divergências se acentuaram ainda com a oposição ferrenha de sua filha Melitta, a qual acusou sua mãe de ser responsável pela morte de seu filho Hans, morto em uma queda nos Alpes.
Sua irmã acreditava que este havia morrido por suicídio e culpou sua mãe.

Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55.945 | RQE 33.048

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