Karen Horney, conforme havíamos anotado no artigo anterior, propôs que as defesas e necessidades neuróticas se agrupariam em três grandes grupos ou “movimentos” de condutas, quais sejam: movimentos em direção às pessoas, contra as pessoas e para longe das pessoas.
A ansiedade básica, envolvendo sentimentos de medo e insegurança, levaria muitos indivíduos a desenvolverem um comportamento hostil em relação às pessoas. Essa atitude os levaria a atitudes de agressividade, necessidade de utilizar as pessoas em seu benefício e muitas vezes uma necessidade de se afirmarem como pessoas poderosas ou superiores. Frequentemente utilizariam o trabalho e as relações interpessoais na obtenção de prestígio e poder, gerando conflitos, frustração e sofrimento. A necessidade do outro, assim como no movimento em direção às pessoas, existiria, porém neste caso em decorrência da necessidade de domínio e exploração. O fracasso nas relações, ao invés de levar à autocrítica, promoveria o reforço de comportamentos autoritários e prepotentes, reforçando a defesa neurótica.
A terceira forma de enfrentamento da ansiedade básica seria o movimento para longe das pessoas, levando ao distanciamento afetivo ou social. Tais pessoas buscariam o isolamento ou colocariam obstáculos à aproximação das pessoas. Diante do medo de precisarem do outro, evitariam o aprofundamento dos relacionamentos em diversas esferas. Ainda que pudessem estabelecer relacionamentos amorosos ou profissionais,
procurariam manter distância afetiva. Muitas vezes se justificariam afirmando que seu comportamento representaria a valorização da liberdade, autossuficiência ou segurança, ocultando ou não se dando conta de que tal atitude envolveria um sentimento de superioridade.
Tais categorias de defesas ou “movimentos”, frequentemente não se manifestam de forma exclusiva nas pessoas. Os indivíduos podem exibir mais de um comportamento defensivo conforme a esfera de vida analisada. A título de exemplo, uma pessoa pode se valer de um movimento em direção às pessoas na vida afetiva e um movimento contra as pessoas na vida profissional. Sendo assim, poderia ocorrer inúmeras possibilidades.
Da mesma forma, tais posições ou movimentos não significariam necessariamente comportamentos neuróticos ou disfuncionais. O movimento em direção às pessoas também poderia ser caracterizado por uma atitude amistosa e amorosa, produzindo boas relações em diversas ocasiões. O movimento contra as pessoas, de forma controlada e respeitosa, poderia eventualmente ser necessário em determinadas situações de competição, inevitáveis na vida em sociedade. Igualmente o movimento para longe das pessoas poderia, em determinadas situações, ser necessário para a
autorreflexão e busca da paz interior.
Além de identificar atitudes ou movimentos diante da ansiedade básica, Karen Horney descreveu determinados fenômenos interiores os quais, diferentemente dos comportamentos neuróticos, se caracterizariam por sentimentos, pensamentos e crenças no enfrentamento da insegurança.
Da mesma forma que Adolf Adler havia proposto que a busca de poder e superioridade seria uma reação a sentimentos de inferioridade e insegurança vividos na primeira infância, Karen Horney observou que falhas na oferta de amor e disciplina para a criança a levaria a um sentimento de alienação de si mesma. Tal sentimento muitas vezes desencadearia a busca por uma imagem idealizada, levando a criança e o futuro adulto a uma crença em sua superioridade e genialidade. Essas autoimagens idealizadas poderiam se apresentar de variadas formas, como a ideia de serem extremamente bondosas, fortes, onipotentes, sábias ou autossuficientes.
A partir da construção de uma autoimagem grandiosa e idealizada, Horney postulou que a pessoa neurótica promoveria uma busca neurótica pela glória. O desejo de se afirmar e vencer nos mais diversos campos da atividade e das relações humanas não seria isoladamente um aspecto patológico, porém a forma como se dá tal busca poderia revelar um comportamento neurótico e disfuncional. Um aspecto importante de tal atitude seria a possibilidade desta busca levar a um sentimento de ódio por si próprio. A frustração em alcançar o ideal imaginado para si mesmo poderia levar a
sentimentos muitos negativos contra o próprio indivíduo. Sentimentos de exigências excessivas para consigo mesmo, desvalorização e autoacusação seriam fonte de angústia e sofrimento. Frequentemente tais pessoas costumam afirmar: “minha autoestima está baixa”.
Francisco Ruiz – Médico Psiquiatra