Entre os principais seguidores de Sigmund Freud, Carl Gustav Jung se destaca como um grande nome da Psicanálise e um importante teórico da Teoria da Personalidade. Amigo e colaborador do mestre, Jung desenvolveu uma concepção própria da natureza psíquica, inclusive se utilizando do termo psique, sendo esta uma de suas importantes contribuições.
Jung era um jovem psiquiatra quando começou a se interessar pelo fundador da Psicanálise e logo se tornaram parceiros e amigos. Estabeleceram importante correspondência e viajaram juntos à Clark University, em Massachusetts, no ano de 1909, realizando algumas conferências sobre a Psicanálise. Tais conferências representaram um importante momento da difusão da Psicanálise para além do mundo europeu e serviram de substrato para o livro de Freud denominado “Cinco Lições de Psicanálise”, obra importante na explanação de conceitos fundamentais da teoria psicanalítica, sobretudo para iniciantes em seus estudos.
Jung foi também o primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional fundada por Freud e seus colaboradores em 1910. Poucos anos depois, em 1913, as diferenças conceituais e pessoais levaram ao rompimento da amizade entre os dois psicanalistas. Freud não admitia que a ênfase sobre a sexualidade e libido fosse questionada ou relativizada. Jung por sua vez, defendia ideias muito particulares em relação ao desenvolvimento da personalidade, natureza do inconsciente e o rompimento foi inevitável.
O psicanalista suíço, discordando da ênfase dada por Freud ao papel da libido e da história individual no desenvolvimento psíquico da criança, acreditava que os fatores principais no desenvolvimento da personalidade seriam arcaicos no sentido da ancestralidade, bem como inatos, inconscientes e universais. Tal conceito de ancestral se referia às experiências acumuladas por gerações passadas, as quais atuariam no presente por meio de um “Inconsciente Coletivo”, termo este cunhado por Jung.
O fundador da psicologia analítica elaborou uma teoria da personalidade de forma bastante sistemática, entendendo que a personalidade total seria formada por elementos ou sistemas diversos, como: ego, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, complexos, arquétipos, anima, animus, sombra e self.
A teoria sobre o Inconsciente Coletivo e seus arquétipos foi, sem dúvida, a grande contribuição de Jung para a Psicanálise e a prática da psicoterapia. Seria, de acordo com seu teórico, um sistema poderoso e influente sobre a psique, produzindo importantes efeitos sobre o ego e sobre o inconsciente individual, podendo determinar e explicar a origem de patologias no indivíduo.
Jung acreditava que o inconsciente coletivo seria um conjunto ou reservatório de memórias herdados de nossos ancestrais, incluindo não apenas os seres humanos, mas toda a cadeia evolutiva envolvida em nossa origem. O inconsciente coletivo, portanto, representaria a possibilidade de revivermos experiências de gerações passadas, promovendo projeções no mundo e no comportamento. Tal reservatório de experiências, associado ao inconsciente individual, poderiam ser fonte de dificuldades, mas também de possibilidades para todos seres humanos. Acreditava que tais experiências poderiam ser aproveitadas de forma criativa no enfrentamento de situações de vida, bem como poderiam ser fonte de dificuldades caso fossem negligenciadas pelo ego, podendo dar origem a sintomas, fobias e outros distúrbios.
Outro conceito importante desenvolvido por Jung foi o de arquétipos, que seriam estruturas integrantes do inconsciente coletivo, compostos por imagens, mitos e padrões de comportamento. Seria uma ideia carregada de emoção e que seriam comuns aos seres humanos em suas mais diversas culturas. Seria uma experiência que foi repetida inúmeras vezes ao longo de várias gerações e teria se cristalizado como uma experiência comum, ainda que inconsciente. Entre muitos exemplos, poderiam ser citados os arquétipos de mãe, pai, herói, velho sábio, Deus, demônios, magia, entre tantos outros. Estes não estariam isolados no chamado inconsciente coletivo, mas estariam todos interligados e associados ao inconsciente individual.
Jung elaborou inúmeros conceitos e seria muito difícil apresentá-los neste momento, porém a ideia de “processo de individuação” se destaca pela importância em termos de sua aplicabilidade na prática da psicoterapia.
De acordo com o criador da Psicologia Individual, o desenvolvimento da psique se daria na direção e com a finalidade de se conseguir uma unidade estável, a qual seria caracterizada pela integração de forma razoavelmente harmônica de diversas estruturas da psique, incluindo o inconsciente individual e coletivo. De forma diversa, se alguma dessas estruturas da personalidade forem negligenciadas por resistências ou outros mecanismos, o prejuízo se daria pelo surgimento das chamadas neuroses. Um exemplo seria a impossibilidade de arquétipos se manifestarem por meio do ego consciente. Sendo assim, o processo de individuação seria uma meta para o trabalho em psicoterapia e o resultado da diferenciação, desenvolvimento e expressão das estruturas integrantes da psique.