Um estudo muito interessante publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics pode nos ajudar a compreender melhor as conexões entre os hábitos alimentares das crianças e de suas mães.
Ao experimentar emoções, geralmente aquelas que são negativas, uma resposta comum das crianças pode ser consumir alimentos, independentemente de sua saciedade. Isso também é chamado de “comer emocional” (CE). Os alimentos aos quais uma criança recorre quando apresenta CE são tipicamente ricos em gordura e açúcar e proporcionam prazer hedônico que, por sua vez, regula a experiência da criança
com essas emoções. O CE é considerado biologicamente paradoxal. A resposta natural do corpo a emoções intensas é liberar hormônios supressores do apetite que inibem o desejo de comer. No entanto, a prevalência de CE em crianças é elevada, permanecendo estável ao longo da infância e persistindo na idade adulta. Isso sugere que, para alguns, a relação entre emoções e comida é aprendida, provavelmente durante a primeira infância. O CE em pediatria tem sido relacionado a maiores razões cintura-estatura em crianças de 4 a 12 anos. Já em adultos, está frequentemente associado a maior índice de massa corporal (IMC) e obesidade.
Uma das questões que ainda permanece pouco compreendida é: os comportamentos de abordagem do alimento pelas crianças, isto é, comportamentos ligados ao desejo de comer, moderam a relação mediadora entre o CE materno e o CE da criança por meio do uso de alimentos para regulação emocional pelas mães, comida como recompensa ou restrição de alimentos por motivos de saúde? A pesquisa foi
conduzida por pesquisadores da Aston University, Reino Unido….
O estudo procurou explorar os fundamentos mecanicistas da relação entre CE materno e CE infantil, avaliando o papel das práticas parentais alimentares e as tendências de abordagem alimentar das crianças.
Os resultados corroboram a sugestão de que práticas parentais alimentares menos responsivas são um mecanismo pelo qual o CE materno pode moldar o CE infantil, mas os achados indicam que a força dessa relação depende dos próprios traços apetitivos da criança, com crianças que experimentam maiores comportamentos de abordagem alimentar sendo os mais influenciados por práticas parentais alimentares
que utilizam alta recompensa ou restrição alimentar.
De fato, este estudo é promissor para trabalhos futuros para explorar como as abordagens para reduzir o CE infantil devem considerar as interações complexas que ocorrem entre as práticas alimentares dos pais e os traços apetitivos da criança que podem influenciá-lo. A literatura já mostrou que as práticas parentais em torno dos alimentos podem ajudar a moldar os comportamentos alimentares das crianças. No entanto, os pesquisadores destacam que este estudo mostra que a influência dessas práticas parentais depende, em parte, das tendências de abordagem alimentar existentes nas crianças. Por fim, mais pesquisas são necessárias para entender como essas descobertas podem ser usadas para apoiar mães de crianças que são
mais motivadas a comer e com maior risco de níveis mais altos de CE….
Não somente os adultos, mas as crianças também podem utilizar a alimentação como forma de fuga e compensação para os obstáculos encontrados ao longo da vida, como episódios de ansiedade ou frustração, por exemplo. É importante que o pediatra identifique esses sinais, converse com a família e a criança e ajude-os a entender o porquê da escolha de determinados alimentos, da quantidade e do horário em que são consumidos. Nesses casos, o acompanhamento interdisciplinar, incluindo psiquiatras, psicólogos e nutricionistas, dependendo do caso, pode auxiliar, e muito, no suporte ao paciente pediátrico e à sua família, promovendo maior saúde física e mental….
Fonte: Pebmed