Temos assistido a uma progressiva e insidiosa degradação da saúde na sua filosofia enquanto sistema. As letras que descrevem os mandamentos do SUS e regem a Saúde Suplementar, cada vez mais ecoam como retóricas poéticas que se valem de exemplos exitosos circunscritos, porém, longe de atender as duras realidades impostas por incontornáveis desafios, na maior parte e nos recantos do Brasil.
O País necessita de acesso a saúde com qualidade, mas lhe é oferecido uma fábrica de médicos em uma solução populista ao arrepio das propostas estruturantes e sustentáveis das entidades médicas.
Muito nos estranha o surgimento de novas leis e posturas regulatórias, que mais convergem com demandas politicamente oportunistas, que solapam a esperança de se edificar um sistema sanitário robusto e sustentável, para um bem futuro.
O recente decreto que reconfigura o Conselho Nacional de Residência Médica deixa bem clara a intenção de capturar ideologicamente a entidade.
A votação no STF nesta terça-feira, 5 de junho, sobre a abertura de novos cursos de medicina determinando que se siga a lei do Mais Médicos, vem chancelar uma proposta equivocada, ver teratogênica desde o seu princípio.
Na saúde suplementar, há muitos direitos que só têm o céu por limite. Entre SUS e Saúde Suplementar, a anarquia dos planos populares e esquemas de cartão-desconto sem operacionalidade, que não internam, não operam e pouco interesse têm no médico, ainda menos na saúde do indivíduo. Nada fazem, se não extrair em combos, os últimos centavos do cidadão empoderado e enfeitiçado pelo canto da falaciosa indústria de exames antes de apontar-lhe o caminho de um SUS subfinanciado, a quem cabe por fim, o cada vez mais intangível “direito de todos e dever do Estado”.
Está se esgotando a hora de tomarmos consciência e romper nossas bolhas digitais saturadas de retóricas inócuas, de curto alcance e, nos mobilizarmos em torno de pautas corporativistas. Devemos militar e ser criteriosos ao escolhermos nossos representantes para instâncias representativas, como CRM, CFM, APM e AMB. Precisamos contar com bancadas aliadas no parlamento. Também se faz imperativa, a implementação de estratégias que visem alertar sobre os malefícios futuros aos principais interessados: a população e os futuros médicos.
Dr. Gabriel C. Alvarenga – Presidente da APM Indaiatuba