Dicas Culturais – Cinema

ILUSÕES PERDIDAS (Ilusions Perdues).  França, 2021.  Direção: Jacques Audiard.  Elenco: Benjamin Voisin, Cécile de France, Vincent Lacoste, Salomé Dewaels, Xavier Dolan, Gérard Depardieu.  149 min. 
O filme “Ilusões Perdidas”, dirigido por Jacques Audiard, adaptando importante romance de Honoré de Balzac (1799-1850), é uma bela produção cinematográfica em estilo de cinemão clássico.  Tem uma reconstituição de época caprichadíssima, bela fotografia, um elenco de primeira e uma história portentosa de Balzac, que fala muito aos dias atuais, embora se refira ao século XIX. Balzac, um dos maiores escritores franceses, é conhecido por retratar a sociedade francesa de sua época, nos seus vários aspectos.  Como o contraste entre a vida na província e em Paris, os jogos de poder, intriga e falsidades da aristocracia, da monarquia e dos que ostentam o que não têm.  O destaque que o filme imprime é para o mundo das letras e, especialmente, do jornalismo, de importância crescente em termos de força política, com os avanços das técnicas de impressão e reprodução.  E é principalmente aí que o tema respira atualidade. Num mundo onde absolutamente tudo se compra e se vende, os jornais podem elevar ou destruir obras literárias, peças de teatro, reputações de membros de destaque da sociedade.  Tudo depende de quem paga, ou de quem paga mais.  O dinheiro, o lucro, é o que conta o tempo todo. Consequentemente, o que se publica, desde fatos a opiniões e críticas de arte, é frequentemente uma completa mentira, a ponto de as críticas serem feitas sem a leitura dos livros supostamente analisados.  Inventa-se, utilizando recursos estilísticos de linguagem: frases de efeito, mordazes, destruidoras, ou valorizadoras de mediocridades, como se fossem grandes obras de arte.  O que é isso senão mentiras, o que hoje chamamos   fake news  e que tanto nos incomodam?
 “Ilusões Perdidas” trabalha questões a partir da história pessoal de Lucien de Rubempré (Benjamin Voisin), que deixa sua província em que trabalhava numa gráfica e tinha, surpreendentemente, como amante a aristocrática Louise de Bargeton (Cécile de France).  Como poeta, ele espera alcançar sucesso, ser publicado e reconhecido em Paris.  Mas lá ele encontrará a realidade da imprensa cínica e movida pelo dinheiro, pelas mãos de Etienne Lousteau (Vincent Lacoste), percebe quem é o grande editor de literatura Dauriat (Gérard Depardieu), e entra no jogo, o que inclui seu amor, a atriz Coralie (Salomé Dewaels), uma relação de amizade e coleguismo literários bem ambígua, na figura de Nathan (Xavier Dolan), entre outros novos vínculos.
Como Lucien descobre o caminho das pedras, a ambição o leva a cruzar para o lado oposto ao da imprensa de oposição à monarquia, em busca de um título de nobreza, e aí sua vida vai se complicar bastante.  Ou seja, as ilusões se mostrarão com toda a clareza. Enfim, a história é rica em detalhes e situações, que o filme consegue mostrar de modo muito claro, embalado por uma trilha sonora de música clássica de excelente qualidade.  O que é mais um refresco que torna a sessão cinematográfica especialmente agradável de ser curtida.  Um filme rico, importante, que tem muito a nos dizer hoje, numa embalagem sob todos os aspectos, atraente.

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