Desde 2020 o vírus da SARS-COV-2 provoca desafios na comunidade médica.
No início, não se sabia ao certo sua forma de contágio, quais pacientes teriam potencial mais grave e por quanto tempo os pacientes seriam seguidos. Enfim, com o tempo e através de diversos estudos realizados, sabe-se hoje que diversas medicações não têm real indicação ou impacto na doença, assim como sabemos também a importância da vacinação em se conter o avanço viral.
De fato, hoje se navega em águas mais calmas, especialmente quando se leva em consideração que a atual mutação viral está associada a sintomas mais leves. Atualmente, há uma redução expressiva de casos graves com necessidade de internação e óbitos. Entretanto, alguns pacientes ainda podem apresentar sintomas relacionados à “COVID Longa”, ou também denominada de “Síndrome pós-COVID”.
Essa entidade está associada a sintomas de fadiga, perda de memória, dispneia, cefaleia, opressão torácica, dores articulares, perda do olfato e paladar, tosse persistente, ansiedade e depressão, ou seja, diversos sintomas que o médico terá que seguir ambulatorialmente.
Muitos desses sintomas podem persistir por poucas semanas, mas, em alguns casos, podem durar meses ou até anos, dependendo do grau de acometimento que o indivíduo teve. Os sintomas nos pacientes pneumológicos avaliados com “Síndrome pós-COVID”, persistem principalmente com tosse e a dispneia e, portanto, devem ser investigados quanto ao risco de terem desenvolvido fibrose pulmonar. Neste caso, pode ser decorrente do vírus da SARS-COV-2 ou como alguns estudos já demonstraram o vírus pode acelerar um processo fibrosante incipiente, e para tanto os pacientes devem ser orientados a realizar seguimento com o pneumologista.
Outro dado interessante está relacionado aos casos de manutenção dos sintomas neuropsíquicos como, por exemplo, a perda da memória, cefaleia e a disautonomia. Nesses, também se observou que a reabilitação tem um papel fundamental para recuperação, ou seja, quanto mais ativo o indivíduo se mantiver neste processo, maiores as chances de recuperar o órgão afetado.
Assim, a indicação de reabilitação tanto física quando psíquica não se restringe aos pacientes graves, e sim a todos os pacientes que mantiveram algum sintoma após o quadro infeccioso da COVID-19.Porém, quando se pensa na população pediátrica lida-se com outras dificuldades. Além dos sintomas próprios da “COVID Longa”, encontra-se um nicho de pacientes que podem sofrer com outros efeitos a longo prazo, como seletividade alimentar decorrente da perda do olfato e paladar, sendo assim deve-se ter muita atenção nos possíveis diagnósticos diferenciais.
No Brasil, a vacinação infantil foi postergada, e se sabe que, apesar desta população em sua grande maioria apresentar apenas sintomas leves, alguns indivíduos podem vir a desenvolver uma rara doença, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), que gera uma resposta inflamatória sistêmica podendo ocasionar hospitalização e em alguns casos progredir ao óbito. Recentemente, foi observado, também, relatos de casos de pacientes que tiveram infecção concomitante de SARS-COV-2 a outros vírus respiratórios, e que essa associação aumentou o número de internações e necessidade de oxigenoterapia suplementar.
Espera-se que, com o avanço da vacinação nesta população, o risco de desenvolvimento da SIM-P e necessidade de hospitalização nessa população diminua.
A “COVID Longa” em sua grande maioria tende a resolução em torno de um ano. Cerca de 80% dos pacientes sintomáticos acabam por regredir totalmente os sintomas após esse período. Estudos demonstram também que essa doença tem se mostrado menos frequente e mais branda em pacientes que fizeram uso da vacinação.
Hoje se pode enxergar que, mesmo tendo avançado quanto ao conhecimento, tanto nos casos agudos de infecção pela COVD, quanto de suas complicações a longo prazo, é importante que haja adesão vacinal por parte da população, bem como medidas enfáticas de orientação relacionadas ao programa de vacinação, uma vez que a doença não foi erradicada e infelizmente ainda surgem informações equivocadas, para dizer o mínimo, com relação a COVID-19.
Somente com a população consciente e munida de informação que se obterá contenção tanto da doença como de seus potenciais efeitos a longo prazo.
Dra. Laura Deltreggia – Pneumologista CRM 139.347 RQE 56.673