A Gestalt-terapia pode ser definida como um conjunto teórico que se destina à psicoterapia, definida num sentido amplo como ajuda a pessoas com algum tipo de dificuldade na esfera psíquica.
A GT não se colocaria, portanto, no campo das teorias de personalidade, conforme Jorge Ponciano Ribeiro (Conceito de Mundo e de Pessoa em Gestalt-terapia, 2011), mas em uma teoria da pessoa a partir de uma revisão das teorias e filosofias de base da Gestalt terapia, notadamente Psicologia da Gestalt, Fenomenologia e Existencialismo.
Além do conceito de mundo, que seria proposto pela Psicologia da Gestalt, conforme Ponciano, o conceito de pessoa teria sua origem no humanismo, “operacionalizando-se no existencialismo e na fenomenologia”.
Ponciano ressalta ainda que nenhuma das teorias relativas à Gestalt-terapia seria expressa por seus fundadores como Fritz, Laura Pearls e Paul Goodman de forma idêntica, ainda que contenham um “eixo teórico semelhante”.
O conceito de mundo em Gestalt-terapia deveria superar a dicotomia humano e não-humano e superar a abstração a uma ideia abstrata de mundo. Nas palavras do próprio Ponciano:
“Falo de um mundo feito de pessoas e coisas, que estejam em íntima e mútua relação, vivendo um único movimento, a mesma perspectiva, em cumplicidade com um único movimento, dando os mesmos passos, experienciando-se como partes um do outro, em uma relação ontológica e cosmicamente produtora de significado: mundo-pessoa”.
Ainda que tal conceito parta de um nível individual na concepção de mundo e coisa, tal conceito seria o início de um conceito coletivo de mundo. Tal conceito, conforme Ponciano, deveria ser abrangente e não deixando nada de fora, pois tal significaria uma totalidade ferida.
O conceito de mundo torna-se, portanto, de extrema relevância para a Gestalt-terapia. Ponciano acredita que seria um vício cognitivo e cultural “ver o mundo como o outro” ¸ acreditando que este deveria se submeter ao nosso poder, levando à crença equivocada “como se o universo pertencesse a nós e não o contrário”. Acrescenta ainda que “se não assimilarmos o conceito de mundo, não assimilaremos o conceito de pessoa”.
O mundo seria, portanto, um conjunto maior no qual as relações entre indivíduos e coisas se tornam específicas, ou seja, diferentes. Existe uma reciprocidade e complementaridade entre o mundo, as coisas e seres, não sendo possível se independer dessa relação. Sendo assim, é na relação que o ser se constitui. Tal conceito é essencial na Gestalt-terapia e tem implicações no conceito de pessoa.
Conforme pontua Ponciano: “O conceito de mundo é fluido, dinâmico, mutável e varia de acordo com a mente teórica de quem o observa e sofre sua influência”. Na perspectiva de uma figura-fundo, pessoa e mundo seriam um todo, o qual pode ser funcional ou disfuncional. Vivemos em permanente troca com o campo maior que seria o mundo. Agimos e sofremos a reação desse mundo em nossa individualidade.
O conceito de mundo na Gestalt-terapia dá origem também a um importante conceito que é o da teoria de campo. Neste conceito qualquer acontecimento é a resultante de inúmeros fatores.
Tal conjunto de fatores se faz necessário para a compreensão de fenômenos individuais e ditos “psicológicos”. Relações interpessoais, desejos, sejam conscientes ou inconscientes, angústias, são tão importantes quanto considerar a realidade social, econômica e política na qual vivemos.
Outro conceito relacionado ao conceito de mundo e teoria de campo seria o conceito de holismo. Tal conceito seria uma consequência necessária da teoria de campo, no qual todo o processo que ocorre em uma parte tem implicações no todo ou na totalidade.
O conceito de pessoa, por sua vez, decorre desta visão de mundo (universo), campo e holismo. A pessoa não é um campo absoluto, já que está envolvida em um campo maior e relacionada a inúmeros outros campos e relações.
A pessoa seria um ser em relação e um ser no mundo, formando uma totalidade.
Seria, um ser no mundo em determinado contexto, também chamado de aqui-agora. “A pessoa, portanto, constitui-se não apenas por meio da experiência vivenciada de ser uma consciência reflexa de si mesma, mas também por suas relações de amor, de trabalho, de produção”, conforme Ponciano.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55945 RQE 33048