Muitas foram as características apontadas por Abraham Maslow de uma personalidade saudável e de uma pessoa autorrealizada. Além das características apresentadas no artigo anterior há muitas outras que estão relacionadas e que poderiam representar seus corolários.
A autonomia seria uma característica de independência da preocupação ou busca de aprovação pelos outros. Tal característica, entretanto, não significaria isolamento social ou despreocupação com os outros. Ao contrário, a pessoa autorrealizada teria a autonomia como resultado de relações satisfatórias com os outros, apresentando confiança na possibilidade de ser amado e uma autoestima que independeria da aprovação pelos outros.
A capacidade de aceitar críticas e uma avaliação realista de elogios estariam relacionadas a um sentimento de autonomia e independência.
Outro aspecto importante de pessoas autorrealizadas seriam a presença de um sentimento de boa sorte e gratidão pela vida. Independentemente de altos e baixos e revezes ocasionais, haveria um sentimento de realização, admiração e
prazer pela vida. A visão da própria vida como algo interessante seria um elemento importante na impressão geral sobre a própria vida.
Maslow identificou um outro aspecto importante nas pessoas autorrealizadas que já havia sido apontado e constituía elemento central no humano que seria o interesse social. Acreditava que o interesse em ajudar os outros seria um fator importante na saúde mental.
Tal atitude compreenderia um sentimento de comunidade e uma união com toda humanidade e uma necessidade de ajudar e contribuir para a felicidade alheia. Poderia também levar a sentimentos de tristeza e aborrecimento diante dos defeitos do ser humano médio e do egoísmo.
Esse interesse pela felicidade dos outros pode parecer inocente ou pouco realista, mas o fato é que se observa em pessoas autorrealizadas sua presença.
Ainda que as pessoas autorrealizadas tenham interesse genuíno no sofrimento dos outros e o desejo de ajudar e colaborar, a busca por amizades e relacionamentos se dirigiria para pessoas sadias, evitando-se relações próximas com pessoas imaturas e de difícil convívio. A procura se daria em direção a amizades profundas e igualmente autorrealizadas. Tal situação poderia eventualmente levar a incompreensões e rejeições. Por outro lado, tais pessoas poderiam ser valorizadas e admiradas, estabelecendo-se relações caracterizadas pela mutualidade e reciprocidade.
O humor estaria presente nas pessoas autorrealizadas, porém em um sentido algo diferente do comumente observado. O humor depreciativo, no qual pessoas ou grupos seria alvo de risos ou gargalhadas, seria repudiado, valorizando-se o riso baseado em ambiguidades e incoerências da vida cotidiana, sem ofensas e sem um conteúdo hostil ou sexual.
Haveria também a capacidade de discriminação entre meios e fins, valorizando-se ambos. Tais pessoas procurariam e seriam capazes de desfrutar o prazer nos meios empregados para a realização de determinados fins, sendo tais meios valorizados em si mesmos. O simples fato de se dirigir a algum lugar pode ser objeto de prazer e realização, sendo válido mesmo para atividades rotineiras.
A presença de valores democráticos seria uma constante em pessoas autorrealizadas, valorizando a independência e autonomia dos outros. Haveria também uma atitude gentil e cordial com pessoas de qualquer idade, gênero ou qualquer outra condição social, respeitando-se diferenças individuais.
Haveria igualmente uma capacidade e uma atitude de aprender com os outros, mesmo que se tratasse de pessoas humildes, uma vez que todos são dotados de saberes e de capacidade de contribuição para a sociedade. Tal não significaria
condescendência com condutas maliciosas, as quais deveriam ser apontadas e criticadas.
Nas relações amorosas, as pessoas autorrealizadas seriam capazes de um nível mais profundo de amor. Maslow entendia que haveria uma diferença entre o amor pela essência de “ser” do outro e o amor por sentimento de falta ou incompletude do amante. O amor na pessoa autorrealizada não envolveria a expectativa de retribuição. São pessoas que desfrutam dos prazeres do sexo, mas não dominados pela necessidade sexual, sendo possível tolerar sua ausência. A atividade sexual seria realizada com alegria e humor.
No campo da psicoterapia, Maslow acreditava que esta não poderia ser livre de valores, sendo seu objetivo ajudar as pessoas a adotarem os valores do ser, a verdade, justiça, bondade e simplicidade. Acreditava este estudioso que seria fundamental uma relação interpessoal sadia entre paciente e terapeuta, sendo suas ideias e princípios muito parecidos aos de Carl Rogers para uma psicoterapia exitosa.
Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra CRM: 55945 – RQE: 33048