Treze anos depois, temos um novo Avatar nos cinemas e ainda que Avatar: O Caminho da Água não tenha o frescor do original, a sequência consegue manter o público de queixo caído com tamanho arrojo técnico, pois não há, em nenhum filme recente, efeitos visuais tão impressionantes e seguros como os vistos aqui. O que a equipe do longa atinge aqui são níveis estratosféricos de qualidade e tudo reflete a segurança de Cameron.
Sua coragem é tanta que, na maior parte do tempo, estamos vendo apenas efeitos digitais, sem qualquer indícios de elementos reais. Em outros momentos, vemos pessoas reais interagindo com personagens e criaturas totalmente virtuais. E tudo funciona. Não há um detalhe que soe mal feito ou artificial.
O cineasta é tão seguro de si – e até mesmo megalomaníaco – que não há vergonha alguma de colocar bebês na’vi em cena, ou “baleias” que quase falam e entendem linguagem de sinais. Apesar de soar ridículo, Cameron faz tudo funcionar porque ele acredita cegamente naquilo. Ao encarar tudo com seriedade e criatividade, o diretor faz com que o público embarque nas viagens de Pandora. A impressão que fica é que alguém finalmente descobriu como realmente se usa o CGI e está jogando isso na nossa cara.
Falta, entretanto, um pouquinho mais de tempero no roteiro e um pouco menos de enrolação. São visíveis os momentos em que Cameron quer investir e brincar, e aqueles em que ele apenas passa os olhos. O que Cameron e seu time de roteiristas poderiam ter feito, por exemplo, era diminuir o número de personagens, deixando mais espaço para os protagonistas e para a narrativa se tornar mais complexa.
Ainda assim, Cameron e seu time são hábeis e merecem aplausos ao tentarem fazer uma sequência legitimamente diferente do longa original. Sempre que possível, O Caminho da Água é um filme visualmente diferente do anterior. Assim, a direção de arte se esbanja com novos cenários e criaturas. E o povo da água é exuberante em cada detalhe.
A criatividade e atenção aos detalhes, aliás, é o que enriquece a franquia. A pele dos novos na’vi, por exemplo, é mais clara, enquanto seus braços e caudas são levemente alterados, o que é vital para sobrevivência na água. Além disso, a composição de cenários, criaturas e conceitos jamais esquece elementos reais, do nosso mundo, que ajudam na identificação e surpresa do público.
Avatar: O Caminho da Água é, no fim, um espetáculo puro e simples. Simples por ser claro, indiscutível. Mas também por não arriscar em sua narrativa ou personagens. Cameron, entretanto, costura tudo tão bem – e conta suas histórias com tanto talento – que ignoramos a simplicidade de sua narrativa. Afinal, uma boa e velha história, ainda que simples ou repetida, sempre vale a pena.
Matheus Pereira – mixdeseries.com.br