Nos últimos anos, estudos de diversos países chegaram a uma conclusão preocupante: a quantidade e a qualidade dos espermatozoides no sêmen dos homens estão diminuindo. O sêmen é considerado um “termômetro” da saúde do homem, de forma que a queda na sua qualidade, pode ser um reflexo de outros problemas de saúde.
Um dos estudos mais relevantes, realizado com 26.609 homens na França e publicado no periódico Human Reproduction, mostrou uma redução de 32% na concentração dos espermatozoides em um período de 17 anos. A média para homens de 35 anos de idade caiu de 73,6 milhões por mililitro de sêmen para 49,9 milhões.
Além da quantidade de espermatozoides por mililitro, denominada concentração espermática, outros fatores importantes para a qualidade do sêmen são a motilidade e a morfologia. A primeira se refere à capacidade de movimentação do espermatozoide: aqueles com mais chances de realizar a fecundação são os que “nadam” rápido e em linha reta. Já a morfologia se refere à forma do gameta, como o tamanho da cabeça em relação à cauda.
Um estudo realizado na Dinamarca e publicado no periódico British Medical Journal (BMJ), concluiu que apenas um quarto dos homens tinham qualidade espermática ideal, levando em consideração os fatores explicados acima. A pesquisa contou com a participação de 4.867 homens, com idade média de 19 anos, e mostrou também que um em cada quatro homens deve levar um tempo prolongado para conseguir engravidar a parceira e 15% apresentam alto risco de precisar de tratamento de fertilidade.
No Brasil, um estudo realizado por pesquisadores da clínica de reprodução assistida Fertility analisou 2.300 amostras de sêmen de homens com idade média de 35 anos, com um intervalo de 10 anos. Os resultados mostraram uma redução na concentração de espermatozoides por mililitro de 61,7 milhões para 26,7. A quantidade de espermatozoides morfologicamente normais caiu de 4,6% para 2,7%.
Segundo a definição da OMS (Organização Mundial de Saúde), um homem só pode ser considerado infértil se ele não consegue engravidar sua companheira (desde que ela seja normal no que se refere à fertilidade) em até 12 (doze) meses de tentativa, uma vez que esse é o período em que 90% dos casais conseguem atingir o objetivo. Isso significa que um homem não pode ser considerado infértil com base nos resultados da análise de sêmen, a não ser em casos extremos, como a azoospermia, ausência total de espermatozoides no sêmen ejaculado.
As principais causas apontadas para a queda na qualidade do sêmen são:
Poluição do ar, obesidade, estresse, consumo de bebidas alcoólicas, uso de drogas, tabagismo, alimentação deficiente e sedentarismo. A obesidade e o sedentarismo, por exemplo, ajudam a intensificar a conversão de hormônio masculino (testosterona) em hormônio feminino (estrogênio) no homem.
Além disso, tanto a obesidade quanto o estresse provocam um desequilíbrio hormonal, que exerce efeitos negativos sobre a produção dos espermatozoides. Já a poluição do ar, tabagismo e uso de drogas, como a cocaína e o crack, provocam o aumento da produção de substâncias que são tóxicas para os testículos, enquanto uma alimentação deficiente leva à diminuição da produção de antioxidantes, que combatem os radicais livres e
seus efeitos negativos na produção dos espermatozoides.
A maior parte dos estudos sobre o assunto ainda é muito recente, e mais pesquisas serão necessárias para que se possa ter uma ideia mais clara da dimensão que essa redução da qualidade do sêmen pode atingir no futuro. Se, por enquanto, a queda na qualidade seminal não pode ser considerada um problema reprodutivo, ela é mais um sinal de que hábitos pouco saudáveis, principalmente os relacionados ao estilo de vida moderna,
podem afetar a saúde de diversas formas.
Dr. Gustavo Bordenali – Urologista Especialista em Fertilidade Masculina – CRM 145.540 | RQE 68.844