Por muitos anos ficou estabelecido que uma dose diária de ácido acetilsalicílico (aspirina) seria um forte aliado na prevenção de eventos tromboembólicos de pacientes hipertensos, principalmente na prevenção de doenças ateroescleróticas cardícas. Porém, apesar desse benefício, muito se tem questionado a respeito das complicações oriundas de distúrbios de coagulação que podem ser desencadeados pelo seu uso constante, mais precisamente na população idosa, onde episódios de sangramento podem levar a complicações graves e até mesmo a morte. Mas será que depois de tantos anos, a aspirina mostra-se realmente eficaz?
Em um estudo realizado pela Dra Rita Del Pinto e seus colegas da Universidade de L’Aquila na Itália, apresentado no JAMA Network Open diz que não. A adição de aspirina nos guidelines de prevenção de doenças cardíacas na hipertensão não tem se mostrado eficaz na redução do risco de trombose nesses pacientes.
Foi realizado um estudo multicêntrico, randomizado com mais de 2.500 participantes durante o período de 2010 a 2013 no SPRINT (Systolic Blood Pressure Intervention Trial) com o objetivo de comparar as estratégias de tratamento básico e intensivo em pacientes hipertensos. O primeiro alvo desse estudo foi a ocorrência de eventos cardíacos primários que incluíam infarto agudo do miocárdio, síndrome coronariana aguda, AVC e falência miocárdica. Dra. Del Pinto afirma que “Houve uma melhora considerável no controle dos fatores de risco cardiovasculares desde o primeiro relato do uso de aspirina em doenças cardíacas. Em relação a hipertensão, não só novas e efetivas medicações tornaram-se disponíveis como houve também uma modificação na definição dos valores relacionados a doença”. Del Pinto afirma ainda que, nesse contexto e em uma era onde os tratamentos estão cada vez mais individualizados, o estudo não encontrou nenhuma correlação específica entre o uso primário da aspirina como estratégia de prevenção de doenças aterosescleróticas na população idosa e de alto risco com hipertensão arterial sistólica.
O estudo avaliou 2.664 pacientes adultos sendo 29.3% mulheres e 24.5% com 75 anos ou mais. Metade dos pacientes (1.332) receberam aspirina e 1.332 não. Em uma análise multifatorial, 42 eventos cardíacos aconteceram na população que recebeu aspirina contra 20 na população que não fez uso de medicamento. Esses achados foram consistentes em subgrupos de pacientes mais jovens, fumantes ou ex-fumantes e pacientes usuários de estatinas.
Em uma outra análise randomizada com um subgrupo de pacientes hospitalizados também mostrou uma diferença não significante entre a população usuária de aspirina e não usuária.
Conclusão: Apesar do estudo apresentar algumas limitações como um follow-up curto, falta de algumas informações acerca do tempo de início do uso da aspirina e eventos hemorrágicos, o estudo sugere que o controle da hipertensão arterial deva ser redefinido em relação aos benefícios gerados pelo uso da aspirina nesses casos.
“Além disso, o impacto clínico do uso da aspirina, mesmo em combinação com novas drogas cardíacas e anticoagulantes orais em populações expostas a fatores de risco merecem melhores investigações futuras” complementa Dra. Del Pinto.
A falta de benefícios da aspirina relatada nesse estudo, apesar das limitações, surpreende alguns profissionais, e estudos mais amplos com follow-up mais duradouros devem ser realizados e a decisão de continuar ou não o tratamento com o uso concomitante da aspirina deve ser reavaliada e tomada em conjunto com o paciente, analisando os riscos e benefícios para cada paciente em questão.
Dra. Gabriela Queiroz – Pebmed