A abordagem de Carl Rogers na prática psicoterapêutica

Conforme Feist, Feist & Roberts (2013), a terapia centrada na pessoa ou no cliente seria “enganosamente simples nas afirmações, mas decididamente difícil na prática”. Como vimos no artigo anterior, a ideia que pessoas vulneráveis precisariam de um ambiente e um terapeuta que possa ofertar uma empatia verdadeira e um clima de aceitação incondicional para que possa haver crescimento e fortalecimento psíquico parece extremamente atraente e funcional, porém o que se observa e se requer do terapeuta é algo de difícil execução.

Rogers apresenta três condições para o crescimento terapêutico de um paciente ou cliente ansioso e vulnerável: encontrar um terapeuta congruente, que manifeste apoio incondicional e empatia.

Apoio incondicional e empatia são condições correlatas e que se referem a uma atitude que pode ser simples em algumas situações e difícil em outras.

Se o cliente for frágil e apresentar um histórico de submissão e dominação por parte de outros, pode não ser tão difícil adotar uma atitude de apoio, aceitação e empatia. Pode ocorrer, entretanto, que o cliente possa não ser exatamente alguém que tenha uma personalidade frágil. Diante da situação onde o cliente adota atitudes de abuso e dominação sobre outros, pode ser difícil a empatia e a aceitação.

Rogers acreditava que a congruência do terapeuta seria a principal condição para uma psicoterapia bem-sucedida, ou uma condição essencial para que o terapeuta pudesse ajudar seu cliente.

Em sua compreensão, Rogers acreditava que haveria congruência na pessoa do terapeuta na medida em que suas experiências organísmicas (a totalidalidade de seu self), fossem acompanhadas de sua consciência (awarness). Haveria ainda a capacidade por parte do terapeuta de expressá-las livremente.

Seria, portanto, o terapeuta capaz de expressar seus sentimentos e impulsos de forma espontânea e livre. Se o terapeuta pudesse expressar de maneira verdadeira seus sentimentos, haveria a congruência que permitiria seu cliente expressar igualmente suas próprias emoções.

Tal postura do terapeuta seria amplamente distinta da postura da “tela branca” do psicanalista. Não seria uma postura estática ou de aparente ausência de emoções, mas uma atitude verdadeira de expressão de suas reais emoções. Seria, dessa forma, uma atitude de afirmação de sentimentos e emoções, ao contrário de negações de sentimentos e impulsos. Como conciliar a congruência do
terapeuta e a consideração positiva incondicional e escuta empática? Seria esta conduta o grande desafio da condução de uma terapia centrada na pessoa.

A consideração positiva incondicional implica na necessidade de demonstrar uma cordialidade e aceitação verdadeira, não apenas no discurso, mas em uma posição verdadeira de compreensão e atitude não possessiva ou diretiva por parte do terapeuta. Tal aceitação pode ser algo facilmente realizável em alguns casos, mas pode ser de difícil execução em outros.

Tal proposta vai muito além da consideração da contratransferência, tal como afirmada pela Psicanálise desde seus primórdios.
Aceitação efetiva por parte do terapeuta significa avaliação e superação de eventuais sentimentos de repúdio de
comportamentos e atitudes do cliente.

A aceitação incondicional da pessoa ou cliente, associada a uma escuta empática, em um contexto de congruência do terapeuta
possibilitariam o crescimento do cliente que evoluiriam através de estágios de desenvolvimento.

O resultado esperado seria que o cliente se tornasse mais congruente, menos defensivo, aberto a experiências e emoções consideradas agradáveis ou não.

O paciente desenvolveria uma visão mais realista do mundo, reduzindo a distância entre seu self real e idealizado, proporcionando relações sociais estáveis e congruentes.

A psicoterapia Rogeriana representa um projeto ousado, não em suas premissas, mas em sua execução. A postura de congruência e aceitação incondicional torna-se tão ou mais difícil que a postura de neutralidade proposta pela Psicanálise.

Ainda que desafiadora, a postura de aceitação incondicional do cliente possibilitaria a integração do self do cliente, fato de difícil execução por meio da abordagem estritamente racional e explicativa, tal como se realizam na Psicanálise e na Terapia Cognitiva, consideradas suas particularidades e especificidades teóricas e práticas. Desta forma, considerava Rogers que o “insight intelectual” não resultaria, por si só, em crescimento psicológico, sendo necessária a ampliação do self na conquista de resultados concretos.

Dr. Francisco Ruiz – Psiquiatra | CRM 55.945 RQE 33.048

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